Maria Rita de Miranda
São Sebastião do Paraíso / MG

 

 

Sensatos anônimos

         

 

          Um burburinho humano é ouvido no vaivém das pessoas que transitam pela movimentada rua do centro da cidade metrópole. É gente que sai do trabalho, que vai começar a trabalhar, que visita lojas ou simplesmente espairece depois de uma semana chuvosa em casa. Pessoas sóbrias ou com roupas coloridas, apressadas ou indolentes, quietas ou tagarelas que levam dentro de si uma história de vida que se manifesta no jeito de ser de cada uma.
          Quem as observasse todos os dias fazendo o mesmo trajeto rotineiro não podia deixar de imaginar como seria cada vida interior. Será que a moça de salto altíssimo, de porte elegante sofria terríveis dores na coluna no final do dia? Será que o velho senhor que era visto sempre com um grande guarda chuva esperava que chovesse ou era um hábito do qual não conseguia se desvencilhar? Será que aquela senhora gorda de semblante bonachão, no final da tarde, ainda tinha forças para uma palavra acolhedora? E aqueles jovens que pareciam despreocupados não estariam cansados de procurar um emprego?
          Todos anônimos, cada um simplesmente mais um em meio à multidão que desfila freneticamente dando àquele centro um toque vivaz. Todos, peças de um mundo que não pode parar, senão perece. Todos contribuintes, à sua maneira, para o bem estar de centenas de outras pessoas. Enfim, cada qual driblando a vida e fazendo acontecer a sua trajetória neste mundo.
          Ao anoitecer tudo pára. O lugar fica fantasmagórico. Recolhidos em seus lares eles lidam com a outra parte de suas vidas. Acumulam forças para amanhã enfrentar o novo dia e dar àquela rua, agora quieta e abandonada, novo toque de vida. E tudo recomeçar.

 


 




Conto publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro"
Edição Especial - Outubro de 2020

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