Alfredo Acosta Backes
Aracaju / SE

 

 

Jardim do Éden

                 

            Meu nome é Aline, tenho nove anos, branquinha de cabelos loiros e cacheados.  Minha mãe me chama de anjinha, por causa da minha aparência. Adoro brincar com meu irmão Joel que é um pouco mais velho, ele possui onze anos e, carinhosamente, o chamo apenas de Maninho. Ao amanhecer ele sempre entra no meu quarto e, pé ante pé, chega até a minha cama e me acorda com um beijo no rosto.
            - Bom dia! – grita
            - Bom dia, minha linda irmãzinha! – ele repete.
            Cantarolando uma canção ele corre para a janela, afasta as cortinas e abre a janela deixando a luz do sol entrar. Um ar fresco e puro penetra no quarto e invade as pequenas e delicadas narinas de Aline.
            - Bom dia meu irmãozinho! – ela fala.
            - Olha que dia lindo dia! – Ele aponta para fora com um imenso sorriso no rosto.
            - Está do jeito que você gosta! – completa ele.
            Realmente, eu adoro ver a luz do dia, os raios de sol iluminando o ambiente e as pessoas, refletindo-se na vegetação e, desta forma, percebo a vida pulsando no coração dos seres vivos.
            - Minha irmã, vamos brincar? – pergunta Joel.
            - Vamos!! - bradei efusivamente.
            Brincávamos de casinha, bonecas, carrinhos, de fazenda com vaquinhas, ovelhas e cachorrinhos. Meu pequeno quarto enfeitado de bonecas e casinhas, entre outros tantos brinquedos, típico de menina alegre e divertida, transformava-se em uma ilha de fantasia para nós dois, pois ele trazia seus brinquedos com ele. Amo meu irmão e sei que ele me adora. Todos os dias fazíamos algazarra e nossos pais quase nunca reclamavam.
            Um dia, ao amanhecer, sinto uma leve brisa que vem da janela de meu quarto, retiro os lençóis de cima de mim e, lentamente, levanto-me. Sigo, devagar, até o local, paro e abro a cortina. A janela estava toda aberta, olho para fora e fico estupefato com que vejo.
            - Será que estou ficando doida? – pergunto-me.
            - Que lindo jardim é esse? – indaguei-me.
            - Olhe só, essas lindas flores! – exclamo.
            - Que perfume delicioso! – defino.
            O sol brilhava e iluminava aquele jardim de uma forma que nunca havia visto antes. Era algo tão maravilhoso e atraente que, sem pensar duas vezes, pulei a janela e corri, pulando e gritando. Estava sentindo-me inebriado de tanto êxtase criado por aquele maravilhoso ambiente. Havia um feixe de luz brilhante e ofuscante no centro do jardim, rodeado de roseiras floridas de onde exalava um leve e embriagante perfume. Aquilo me atraia, comecei a me aproximar e a cada passo, mais atrativo ficava.
            De repente, ouço uma voz conhecida, lá longe. Então, presto atenção e a reconheço, era a voz do meu maninho a chamar-me.
            - Volte minha irmãzinha! – ele pedia.
            - Não vá! – repetia, várias vezes.
            - Por favor! – implorava.
            Virei-me na direção da janela, acenei e tentei falar alto para ele ouvir.
            - Já vou maninho! – disse.
            - Já vouuu! – gritei.
            Porém, percebi que meu irmão chorava muito e o choro era de desespero. Um choro dolorido que arrepiou minha alma. Quero voltar, tenho que ficar perto dele, tento caminhar até ele, mas não consigo e resolvo chamá-lo.
            - Maninhooo!! – gritei.
            - Estou aqui!! – falo.
            - Me ajude! – peço.
            - Te amooo! – falo, chorando.
            Joel não ouvia, apenas chorava copiosamente. Então, volto-me para frente e percebo que daquele feixe de luz surge uma imagem, inicialmente difícil de distinguir, mas que vai se definindo como uma linda mulher, sorridente, cativante, olhar doce e angelical. Aproxima-se como se estivesse flutuando, em seu rosto um lindo sorriso, toca-me suavemente, busca pela minha mão e um som doce sai de seus lábios.
            - Calma minha filha! – ela fala.
            - Vou conduzi-la até o seu quarto! – complementa.
            Sinto uma grande paz que dela emana e deixo-me levar. Ao chegarmos ela indica a direção da cama e, sem entender nada, vejo meu corpo estendido sobre a mesma, inerte, sem vida. Ao lado, minha mãezinha, meu pai e, agarrado ao meu pequeno corpo, meu maninho ainda em prantos. Nesse momento, ouço novamente a voz tranqüila e aveludada da mulher que me conduz.
            - Está na hora, minha filha! – ela disse.
            - Não se preocupe! – fala.
            - Eles ficarão bem! – completa.
            Aquela mulher abaixa-se, acaricia minha face, enxuga minhas lágrimas e beija-me no rosto.
            - Todos, um dia, deverão fazer a passagem! – complementa.
            - Agora é a sua vez! – finaliza.

 

            

 

 




Conto publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro"
Edição Especial - Outubro de 2020

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