Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

 

 

 

Avó Eugênia




         Estamos no mês de julho. Mês dedicado aos avós. Hora de rendermos homenagens e agradecimentos, além de orações para eles.
         Não conheci meus avós Manoel e João. Minha avó Leôncia faleceu quando eu tinha menos de dois anos. Só tive a alegria de conhecer minha avó Eugênia, que me deixou muitas recordações. Era uma senhora alta, trigueira, magra e usava seus longos cabelos enrolados em coque. Seus vestidos eram sempre estampados de preto e branco.
         Lá pelas cinco horas da manhã, ela se levantava, ou melhor, sentava-se na cama e punha-se a pentear seus longos cabelos grisalhos. Enquanto os desembaraçava, fazia suas orações, em sussurros, certamente para não nos acordar. Minha tia Terezinha, minhas irmãs Maria, Rosário e eu dormíamos no mesmo quarto que ela.
         Quando minha avó terminava seu rito matinal, ia preparar o café. Lembro-me que fazia bolinhos de chuva, às vezes incrementados com banana, embrulhava-os no papel do pão que o padeiro entregava na porta de casa e os colocava embaixo do travesseiro de cada neto. Ainda na cama, semidespertos, passávamos a mão embaixo do travesseiro, achávamos a iguaria e fazíamos nosso primeiro desjejum.
         Nas refeições, quando menores, comíamos quase toda a sua comida, já que vovó amassava feijão, arroz, farinha e o que mais tivesse e, com as mãos, preparava deliciosos “quitutes”. Ela ajudava minha mãe cuidando da roupa de toda a família. Colocava todas as peças para quarar, mantendo-as muito limpas. As brancas eram enxaguadas com anil que as deixavam com um branco meio azulado.
         Coisas que as avós daquele tempo realizavam com muito carinho.
         Minha avó Eugênia não costumava sair de casa. A minha tia era sua procuradora para receber as suas duas pensões, que seus filhos falecidos muito jovens lhe deixaram e que nos ajudaram muito.
         Havia, porém, um dia no ano que ela saía de casa, sim. Dia dois de novembro. Ia a pé até o cemitério fazer suas orações no jazigo onde estavam depositados os restos mortais do tio Lúcio e do tio José.
         Figura forte, não se queixava da vida, falava pouco. Era muito amada pelas suas irmãs e pelos seus sobrinhos. Vinham de longe para visitá-la e permaneciam vários dias em nossa casa.
         Minha avó pertencia a uma família importante de Maricá: a família Modesto. A rua da casa de meus pais leva o seu nome: Rua Eugênia Modesto da Silva.
         Jesus com certeza tinha um carinho enorme pelos seus avós Sant’Ana e São Joaquim. Exemplo que todos os netos devem seguir. E, quando os avós se forem, como os meus que já estão na eternidade, poderão contar com a proteção deles, porque se em vida são como anjos que se preocupam e intercedem pelos netos, quanto mais juntos de Deus.
         Que todos aqueles que já partiram possam rogar por nós e os avós que ainda estão aqui na Terra, ajudem a cuidar de seus netos com muito amor.
         Feliz dia da avó e do avô!

 

 





Conto publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro"
Edição Especial - Outubro de 2020

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