Isabel Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS

 

 

 

Tempos difíceis




        

A finitude é um atributo de todos os seres vivos. Vivemos achando que somos imortais. Postergamos qualquer pensamento sobre isso porque não queremos encarar esse fato. Seguimos vivendo com um pensamento mágico a nos guiar. Quando tomamos o primeiro susto ao perder alguém amado, a consciência se manifesta .Ainda assim seguimos elaborando o luto mas ludibriando a razão.
Quando algo muito intenso ocorre e nos deixa vulneráveis e à mercê da sorte, o coração balança e aparece uma inquietude difícil de superar.
Creio que nunca tive tanto medo como agora. Perdemos o controle de nossa vida, das coisas básicas do cotidiano, dos elementares contatos para sobrevivência emocional.
Venho há anos passando por sucessivas perdas familiares. Trágicas, inesperadas e a tudo fui enfrentando mostrando à mim mesma um poder de resiliência desconhecido.
A pandemia do vírus que não vou citar o nome em uma tentativa infantil de ignora-lo, deixou-me apavorada. Sim. Tenho medo de não resistir à mais um revés da vida. Temo por meus amores, filhas, netos, genros, irmã, cunhado, sobrinhos, sobrinhos - netos, primos e, lógico, por mim mesma, por ser pertencente ao grupo de risco ( idosa e cardíaca)
Aguardo ansiosa a formatura de minha neta mais velha que concluirá a faculdade de psicologia ao final deste ano. Ela é como outra filha e quem a ajuda sou eu. Por isso, não posso morrer para não atrapalhar a vida e o sonho dela. Pode parecer tolice para quem lê, mas para quem vive sozinha e não pode, em função da quarentena, sair de casa e conviver com seus familiares, nem recebê-los, abraçar, beijar, os pensamentos negativos nos assaltam pelo inusitado da situação, pela fragilidade que nos assalta.
Concomitante à tudo isso, observamos guerras políticas em hora totalmente imprópria, e constatamos o quanto o homem é predador do planeta, pelo tanto de regeneração que apresentou neste tempo de confinamento dos homens.
Não me sinto com peso na consciência pois sou uma pessoa que cuido do meu entorno. Planto flores, árvores, seleciono lixo, procuro economizar água, alimento cães e pássaros diariamente, procuro ajudar todos que me cercam.
Que saiamos com vida desta experiência inusitada e tocante, que sejamos melhores seres humanos, que amemos com menos egoísmo, e que tenhamos aprendido o quanto é importante "ser mais" porque de nada adianta "ter mais" porque todos partimos de mãos vazias e nestes tempos de pandemia, mais sozinhos do que anteriormente pelas regras de convívio ou isolamento social impostas pelos governantes.
Que Deus nos ajude ...

 

 

 





Conto publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro"
Edição Especial - Outubro de 2020

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