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Teresa Cristina Cerqueira de Sousa
Piracuruca / PI

 

Os urubus


Era uma vez uns urubus que moravam nas árvores, às margens do rio Piracuruca um pouco próximo à casa de um pescador e de sua família.
Todos os dias, os urubus voavam pelo curso do rio e só voltavam à tardinha para dormir nas árvores.
Esse movimento dos urubus era observado por todos os pescadores da região. E mesmo não gostando dessas aves de rapina tão perto de casa, nada faziam para irem embora.
Num dia de sol forte, pelo mês de dezembro, ao meio-dia, o pescador subiu o rio numa canoa. Ele gostava de assobiar, que se sabia quando voltava da pescaria. Mas naquele dia, deram quatro horas da tarde e não se ouviu barulho nas águas que não fosse do vento levando mansamente o fluxo ribeirinho pelas encostas da margem.
Se houvesse um indício do retorno do homem – que sempre anunciava a chegada com seus longos assobios -, a esposa dele não estaria tão nervosa, com choros e tudo.
Desse modo, os vizinhos mais próximos percorriam já as beiras do rio e chamavam-no com gritos dirigidos para os locais em que costumava pescar.
Quando um dos envolvidos na busca, que valia procurar até onde os olhos sentiam alguma coisa nas águas, olhou para o céu e viu alguns urubus voando - quase no meio do rio - em volta de alguns tocos secos de carnaúba, iniciou a gritar.
— Vejam como aqueles urubus se concentram nos tocos que resistem ainda dentro d’água! Eu sempre falei que a mudança do curso do rio nos traria grandes tristezas. — falou, olhando para as pessoas que se encontravam com ele.
Um dos que estavam ali – pela emoção se via que era um parente próximo do pescador – articulou com os olhos cheios de lágrima:
— Peçam, por favor, emprestada a canoa do seu Pedro Cabaça... Coisa que devíamos ter feito há mais tempo! — e entrou nas águas retirando da roupa que usava apenas os calçados.
E outros fizeram tal ele, iniciando nados em direção ao voo dos urubus, onde havia os tocos de carnaúba quase ao meio do rio, para onde se avistavam tão somente pequenos pontos saindo das águas. Mas por razões de conhecimentos das características do rio, eles tinham certeza de ter ali esses obstáculos dentro do curso das águas.
Os urubus, que voavam raso e em grande alvoroço, estavam justamente ensaiando algumas descidas mais baixas no voo quando os nadadores chegaram ao local.
<— E foi assim que o Senhor foi salvo, papai?
— E o que vocês acham? Eu tenho uma grande dívida, de certo modo, com aqueles urubus — murmurou com a xícara de café nas mãos. — Não fossem eles, eu estaria morto dentro do rio, já que minha canoa bateu nos tocos daquelas benditas carnaúbas. Desmaiei que até hoje não sei como suportei o sol do meio-dia num mês quente e seco tal este.
O homem colocou um olhar para o alongado do caminho até o rio e, num suspiro, disse:
— Mas vamos mudar de assunto que agora eu quero é saber quem vai pegar a baladeira para me ajudar a matar o galo para o almoço.
— O galo velho?
— Sim, que amanhã ele não me acorda mais às quatro da manhã. E vamos logo que sou bom de mira numa baladeira!
Então, os dois meninos correram para dentro de casa e voltaram com um sorriso nos lábios e baladeira nas mãos.

 

 
 
Conto publicado no livro Quem vai pegar o morto?" - Fevereiro de 2016