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Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

 

Saudades

        

Hoje acordei com saudades.
Saudades de minha avó Eugênia, de suas irmãs, Tia França e Tia Arssínia.
Enfim, saudades, lembranças boas.
São tantos parentes e amigos que já caminharam para o outro lado da montanha que é impossível enumerá-los.
Época de Natal e Ano Novo é assim mesmo. Ficamos mais suscetíveis.
Eles estão mortos? Apenas parecem, pois estão muito vivos na minha mente e no meu coração.
Só não os vejo mais com os olhos físicos.
Recordo-me especialmente hoje, da minha tia-avó Francisca, a Tia França. Para ir à casa dela, minha Tia Therezinha e eu andávamos cerca de duas horas, pois nós morávamos no centro da cidade de Maricá e ela em um bairro afastado, Caxito.
Em uma dessas visitas, ela me chamou em particular e me disse: - “Helena, tenho um presente para você, mas os meus netos não podem ver eu lhe dar.”
Pois bem, quando se fez oportuno, ela tirou do bolso da saia, um bonequinho. Um pouco maior do que a palma de sua mão. Era uma mistura de Chaplin com Mazzaropi. A fisionomia era de um beberrão. Bastante cômica.
Então a Tia França colocou o brinquedo sobre a mesa e tirou do bolso um copinho menor do que um dedal e iniciou uma interação com o boneco: - “Chico, você quer café?” E chegava o copinho perto da boca do homenzinho, que respondia com uma volta, como se recusasse a bebida. – “Chico, você aceita um copo de leite?” E Chico rejeitava o leite. E assim a Tia França ofereceu guaraná, limonada, laranjada e o bonequinho dispensava todas com um rodopio meio cambaleante. Até que a alegre e brincalhona Tia França ofereceu-lhe uma cachacinha e Chico na mesma hora girou ao encontro do copo.
Como eu era muito pequena, não entendi a mágica e ela deu-me a explicação: - “Helena, de um lado do copinho existe um imã que atrai e do outro lado tem um que o afasta, por isso ele “rejeita” as bebidas que não lhe agradam.”
Fiquei muito feliz, só que na época não entendi o porquê de não presentear um dos netos com um brinquedo tão interessante. Hoje, percebo claramente o motivo: eram muitos netos e o mimo era um só. Ela não queria dar preferência para um, pois os outros netos ficariam tristes. Comigo não haveria problema, pois não era neta e estava de passagem. Provavelmente quando perguntassem pelo bonequinho, ela teria uma boa desculpa para o seu desaparecimento.
Então? Na realidade a morte é um blefe, pois todos continuam vivos dentro de nós com suas histórias. E um dia todos nos encontraremos na Eternidade.

 

 

 
 
Conto publicado no livro Quem vai pegar o morto?" - Fevereiro de 2016