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Lourival da Silva Lopes
União / PI

 

A senha

        

Eu os vi chegarem aos pares, de mãos dadas. Eram três pares, formavam casais. Uma mão segurava a mão do outro ou da outra, e a outra, um celular. Quase não se olhavam. Os olhos de cada um estavam direcionados para o touch screen e com o dedo polegar rolavam a tela e digitavam alguma coisa, com muita habilidade. Às vezes, percebiam-se risos bem diferentes e distantes. Não riam deles, dava para imaginar. Riam certamente das mensagens que recebiam. Já não eram seis pessoas. Eram muitas. Apesar de ser um grupo grande, era silencioso. Sem falar nada e sem desgrudar os olhos da tela, juntaram duas mesas, e ouvi bem um deles falar bem alto:
- Uma cerveja e seis copos!
Era de manhã. Um vento fresco amenizava o calor advindo do sol escaldante do verão inclemente. As folhas das ingaranas, plantadas pelo dono do bar, faziam um movimento de proteção natural indo, algumas vezes, banharem-se nas águas frias do rio Parnaíba. Eu observava tudo, enquanto me hidratava com água mineral, tomada aos goles, bem devagar.
O que me chamava atenção não era o movimento das pessoas, que iam ou vinham, atravessando de bote o rio. Estas até que conversavam. Chamava-me atenção o silêncio consentido dos três casais, que, durante o tempo em que os observava, só dirigiam alguma palavra para pedir cerveja. Quando queriam falar alguma coisa para o outro, apenas mostravam o que estava escrito na mensagem, com uma ou duas palavras. Ou, então, quando mostravam algum vídeo ou foto que recebiam pelo whatsapp ou viam no facebook. Uma linguagem ágil e muito eficiente que dispensa, quase totalmente, a oralidade.
O que está acontecendo? Eu me perguntava. Será que as relações pessoais, os namoros, os casamentos, os encontros de família, de amigos ficarão restritos ao mundo virtual? Enquanto estive analisando aquela situação, não aconteceu nenhum abraço, nenhum beijo. Apenas uma cena estranha para quem ainda não se acostumou ao mundo virtual, da informação simultânea, rápida e certeira, que deixa as pessoas ansiosas para ver mais e mais informações.
Nesse momento, chegam mais casais. O bar ficou lotado. Um mais afoito perguntou:
- Senhor, a senha do wi-fi, por favor.
- rioparnaiba2015.
Sem senha não há clientes. E, assim, a vida segue. Agora, sem se prestar muita atenção ao que as pessoas fazem e dizem no mundo real.

 

 
 
Conto publicado no livro Quem vai pegar o morto?" - Fevereiro de 2016