Otaviano Maciel de Alencar Filho
Fortaleza / CE

 

 

Cadê a água do açude?

 

           

O período chuvoso que, desde o começo do ano, banha boa parte do território cearense está levando as pessoas a reavivarem as esperanças de que a seca que dura mais de cinco anos terá seu fim. Embora as precipitações pluviométricas não estejam bem distribuídas, pois as regiões centro e sul estão recebendo menos chuvas que as do setentrião do estado, a média histórica de precipitação já ultrapassou a do mesmo período do ano passado. Mesmo diante dessa situação o governo do estado não descarta a possibilidade de ser decretada situação de emergência em alguns municípios.
Enquanto as águas do “Velho Chico” não chegam, trazendo com elas as esperanças de dias melhores o jeito mesmo é ir se virando com a ajuda de Deus. E queira Deus que quando elas chegarem seja para benefício da população mais carente e não apenas para o abastecimento do parque industrial de  agronegócios de grande porte que se instalarão na região. Por enquanto a população continua a contar com a ajuda vinda dos céus, de vez que a ajuda que deveria vir do estado não se faz presente através dos órgãos governamentais, que se eximem das responsabilidades a eles incumbidas. Todo ano a história se repete e dessa vez não está sendo diferente. Poucos são os investimentos feitos para que o sertanejo não venha a depender tão somente dos fenômenos naturais.
Alguns açudes situados em regiões onde as chuvas caem em grande quantidade estão “sangrando”, deixando as águas vazarem por sobre as barragens construídas para a contenção do líquido precioso e raro, gerando um grande espetáculo visual além de proporcionar momentos de lazer àqueles que afluem ao local para tomarem banho.
Como é bonito ver no semblante de um povo marcado pelo sofrimento, o sorriso estampado em suas faces enrugadas pela exposição de anos sob a ação causticante de um sol abrasador, a alegria de ter “ajuntado” uma boa quantidade de água nas cisternas construídas para a captação das águas que caem nos telhados das casas e vão através de calhas encherem os respectivos reservatórios!
Um fato inusitado chamou a atenção de moradores da pequena cidade de Baturité, situada a aproximadamente 100 quilômetros de Fortaleza: o açude Tijuquinha, que ficou completamente cheio com as chuvas que caíram na região, inexplicavelmente, de um dia para o outro amanheceu quase que totalmente vazio. Os moradores mais próximos do açude estranharam o ocorrido e rapidamente a notícia se espalhou por toda a cidade causando as mais variadas especulações acerca do acontecimento.
Não demorou muito e a explicação veio através da companhia responsável pela gestão dos recursos hídricos do Ceará, COGERH, que informou através de nota à imprensa que teve de realizar uma operação de desassoreamento do açude, ou seja, liberou a descarga da água para que houvesse uma melhoria em sua qualidade, de vez que a mesma estava lamacenta e inapropriada ao uso e consumo. A nota também esclareceu que o açude acumula água todos os anos, independentemente de se ter ou não uma estação chuvosa rigorosa, e como não havia sido feito o desabastecimento do mesmo nos anos anteriores a lama foi se acumulando no fundo e agora era o momento ideal para se proceder com a limpeza através do desassoreamento, já que com máquinas não era poss& iacute;vel, pois elas atolariam devido ao grande acúmulo de lama. Ainda segundo o órgão, o açude já esta recebendo recarga de água proveniente das chuvas que continuam caindo na localidade. Com relação ao possível desperdício da água a empresa informou que quando é feito o desassoreamento, a água desce pelo rio de mesmo nome do açude até se encontrar com o rio Aracoiaba. Os sedimentos vão decantando pelo trajeto feito no fluxo do rio. Finalmente chegando limpa no açude Aracoiaba, situado no município vizinho, também de nome Aracoiaba.
Eu, particularmente, há algum tempo atrás, provavelmente atribuiria o fato a intervenção de ET’s em busca do líquido precioso a manutenção da vida em seus respectivos planetas. Mas hoje os tempos são outros e a superstição não tem mais guarida em meu ser. Ademais, o que iriam fazer os supostos ET’s com uma água suja, contaminada por vários materiais? Seria mais razoável imaginá-los captando água em uma dessas indústrias de extração de águas minerais, não?
Xô superstição!

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Pé de pato, mangalô, três vezes!!!"- Edição Especial - Junho de 2017