Anchieta Alves de Santana
Uruçuí / PI

 

 

Um ano-luz entre Parlamento e Educação

 

           

          Naquela manhã de quinta-feira, outubro de 2002, no salão principal da Câmara Legislativa de Uruçuí, acontecia mais uma rodada de entendimentos entre coordenação da Universidade Estadual do Piauí e representantes dos acadêmicos. Presentes ao ato, além dos supracitados, alguns professores, dois vereadores e alguns curiosos que espreitavam à distância. A discussão girava em torno de avaliações internas que estavam sendo implantadas. Os acadêmicos, liderados pelo professor Hudson Leite de Oliveira, não concordavam com as metodologias adotadas e, por essa razão, formavam um denso cordão de resistência ao processo. O debate discursivo acontecia em ritmo bastante intenso.
         No ambiente da reunião  era possível perceber nas paredes laterais, uma espécie de galeria com quadros bem talhados e devidamente cuidados publicando fotos de ex-presidentes daquela corte legislativa; em cada quadro informações como nome e período legislativo. No espaço destinado à mesa diretora, cadeiras de alto padrão de qualidade ladeavam uma mesa com tamanho quase agigantado, mas com designs de bom gosto e devidamente posicionada e ornada com uma toalha de renda onde se visualizava as cores da bandeira do município. Era uma toalha mais vermelha do que branca, mais branca do que azul. Sobre a mesa, além de plaquetas indicativas dos nomes dos parlamentares, microfones ajustáveis e localizados em frente a cada cadeira.  Via-se, também, dois jarros transparentes com um fino feixe de luz azulada enfeitados com flores que, pela beleza e perfeição, nem pareciam ser artificiais. O sistema sonoro era impecável e estava funcionando com sua qualidade máxima. Climatizadores modernamente silenciosos deixavam o recinto bastante acolhedor. No espaço destinado à plateia, cadeiras sem acolchoamento decente, mas bem cuidadas formavam várias fileiras devidamente alinhadas. Num espaço reservado à esquerda da mesa diretora, um porta-bandeja na cor vinho dava um toque singular à sala.
         Quando a reunião já se aproximava do seu final, entendimentos consumados, restavam apenas as considerações finais, quando uma professora que representava a instituição de ensino discorria sobre alguns aspectos da teoria de Paulo Freire. E este nome, por diversas vezes, foi citado em sua fala e também no discurso de alguns acadêmicos. Era Paulo Freire pra lá, Paulo Freire pra cá, Paulo Freire disse isso, Paulo Freire disse aquilo. Foi aí que um vereador por nome Tião da Maria Laura, literalmente perdido em meio àquelas referências educacionais, lançou uma indagação descortês para o momento:
     - Quem diabo é esse tal de Paulo Freire que vocês tanto falam? É um político? Um cientista? Um fazendeiro? Um governador? Um artista?
      Após esse quase brado de uma boca legislativa, o silêncio foi ensurdecedor. Os trabalhos foram dados por encerrados. Relatório concluído, datado e assinado.

 

 
 
Poema publicado no livro "Pé de pato, mangalô, três vezes!!!"- Edição Especial - Junho de 2017