Valmari Santos Nogueira
Salvador / BA

 

 

Saudade, de quê?

 

 Num animado bate-papo entre amigos, um deles me perguntou de que mais eu tinha saudades. Sem pestanejar lhe respondi: tenho saudades dá “samba canção”. Surpreso, indagou-me! - Da samba canção, por quê?! Ressalvando meus antepassados que já se foram e que hoje são saudades eternas, passei a discorrer sobre o assunto enfocado. Alguns leitores desavisados podem pensar que estou falando de um conhecido e popular gênero musical brasileiro. Também, que estou cometendo um grave erro de concordância gramatical. Ledo engano, refiro-me, leitores, a uma antiga peça do vestuário íntimo masculino – não tão antiga assim - e que para dar vez à modernidade, saiu de moda. Tornou-se “démodé”. A “cueca samba canção” esbanjava praticidade, tanto no vestir quanto na funcionalidade. Com a braguilha constantemente escancarada, e sem botões, era fácil para o homem ejetar o líquido oriundo da bexiga. Agora com a invenção duma tal de cueca box, ó meu Deus, que dificuldade! Para completar o desespero dos setentões, oitentões e assim por diante, inventaram, também, bermudas e shorts sem braguilha. Ora, se a cueca box já não tem braguilha, o short e algumas bermudas agora também não, imaginem a dificuldade para a velha guarda ir a um toalete nos Shoppings Centers ou outros estabelecimentos congêneres, com grande frequência de clientes, naqueles mictórios pendurados na parede, para esvaziar o depósito retentor urinário. Tem que baixar as calças e ficar com seu bundão à mostra ou fazer uma tremenda ginástica para puxar o instrumento excretor urinário imprensado entre a apertada boca da cueca box e a coxa. Também não sei por que cargas d’água, confeccionam a tal da cueca box com certo material pegajoso que, ao vestir, gruda nos pés dos usuários. Certo dia flagrei um parente próximo, já quase octogenário tentando, após o banho, vestir uma cueca box. Meu Deus, que desespero! Era como se a danada tivesse cola, grudava no pé do velhote e, vesti-la, se tornava uma difícil missão. Se não fosse a parede que lhe servia de amparo o velhote cairia estatelado no chão.
Acrescento ainda que, em tempos idos, era ímpar a praticidade da “samba canção” nos colóquios amorosos. Eita tempo bom! Quanta saudade!.

 





Conto publicado no livro "Por trás dos panos" - Contos selecionados
Edição Especial - Janeiro de 2021

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