Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

 

 

A decisão é de cada um




O momento que estamos vivendo ou quem sabe, é mais correto dizer sobrevivendo, foi de um tempo de muitas privações.  Ficar trancado, dentro de casa. Não conversar com ninguém. Nem no portão, ter um bom diálogo, com um vizinho ou com quem passa na rua. Uma realidade a qual não estávamos acostumados.
Ouvíamos pelos meios de comunicação:  
- Vai passar logo. - Pareciam todos muito bem entendidos. 
Que nada! Além de não passar, foi só piorando.  A dor passou ser uma constante. A morte rondando as casas. O medo, amanhecia e anoitecia com as pessoas, como se fosse um companheiro inseparável. A vida de cada um e de todos, tomou outro rumo.
Nada de encontros. Nem visitar um amigo doente, os abraços então, ficaram proibidos, os beijos, só os que se faz na ponta dos dedos e se envia com um sopro abençoado.
Os cemitérios, não mais um Campo Santo, para a Última Morada, porém um lugar para receber um corpo contaminado, fosse durante o dia ou a qualquer hora da noite. Ser depositado e, sair de lá quase que correndo.
Sem uma despedida, sem uma Ave Maria. Sem um “até um dia!”. Um lugar tenebroso, quanto antes for vedada a sepultura, seja com a terra da Pátria Amada, ou seja, com tijolos e cimento, melhor é ir embora dali quase correndo. A contaminação passou a fazer parte do dia a dia. Um perigo, espreitando com sordidez: quem vai ser o próximo?
E os seres viventes rezando para não serem mais um. Uma desolação. Os fins dos tempos. 
Começaram as restrições: usar máscaras, lavar as mãos, usar álcool em gel. Um cerimonial aprendido com sofrimento.
As máscaras incomodam, dificultam a respiração. Machucam o nariz. As orelhas cansam de serem suportes de elásticos.
E, tudo foi seguindo um novo ritmo. Quando parecia que estava prestes a passar, surge um novo surto. 
O caos foi instalado. Parece ser sinal de que tudo acabou.
A humanidade foi atingida, não apenas em determinada região, mas em todos os lugares. Apenas os que estão em Isolamento geográfico e se preveniram, “aqui ninguém pode chegar”.
Houve até esboço de igualdade, entre os seres humanos, sem olhar a cor da pele, o formato dos olhos, o tipo de cabelo, ou a quantia em depósitos bancários, ainda sem preferência por diplomas em universidades famosas ou em bancos escolares de lugares distantes. Todos foram atingidos.
As pessoas morrendo sufocadas. Sem ar para respirar. O ar uma dádiva do Criador. O ar que envolve tudo o que existe na Terra. O elemento em maior quantidade.  E, fazendo falta aos seres enfermos, sufocando. Sejam eles anciões, outros muito jovens, homens e ou mulheres não importa, até crianças partiram. 
Faltou oxigenador. Faltou oxigênio. Faltou leito nas UTIs e nas enfermarias. O desespero de quem previa o seu fim. O desespero dos familiares. Não posso fazer nada. 
Em nenhum local do Planeta Azul, se vislumbrou uma Arca para socorrer a pobre humanidade desamparada.
Chegamos a perguntar:
- Oh, Deus onde estás? Nos abandonaste? O que será de nós?
O contágio eminente era só estar próximo. Até um aperto de mão.
O que fazer?
Umas ideias loucas. Tomar isso ou tomar aquilo, vão sendo sugeridas. A política em vez de ser um Bem Comum passou a ser um atrapalho horroroso.
É preciso uma vacina e com urgência. Quem irá produzi-la? Precisa antes ser criada. 
E, ela surge. Vem lá do outro lado do mundo. De um povo milenar com tradição em resolver problemas quando a solução precisa ser ainda criada. 
Eu não vou tomar, afirmam alguns. Outros dizem:
-Eu vou, estou aguardando com muita esperança.
 Sempre se fez vacinas desde o início do século passado e não se perguntou a origem. É muito fanatismo, muito nariz empinado. Mas como não tem para todo mundo, quem não quiser tomar, melhor, vai sobrar para o outro que tanto a quer.
Quem entende essa humanidade?. . .
Vacina deste, vacina daquele. Na realidade ninguém é dono de nada. A vacina é criada por um ou por vários cientistas que estão a serviço de todos. A vacina é a Luz no meio (ou ainda) no princípio do Túnel. Seja ela Bem-vinda e que seja produzida em grande escala, antes que muitos outros sejam levados por essa doença que não tem alma e nem coração, e que sem distinção, ataca. 
Fica a critério de cada ser vivente sair ou não sair de casa.  Evitar ou provocar um agrupamento. Receber ou não receber a vacina. O livre arbítrio foi nos deixado como presente Divino.
Que todos os que se cuidarem, sejam os abençoados e que tudo seja renovado e, que a "batalha final" nos traga um tempo de Paz e Justiça com muita Prosperidade e a iniquidade seja eliminada da face do Planeta Abençoado. A decisão é de cada um.

 





Conto publicado no livro "Por trás dos panos" - Contos selecionados
Edição Especial - Janeiro de 2021

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