Teresa Cristina Cerqueira de Sousa
Piracuruca / PI

 

 

O menino dos peixes

 

O menino entra pela porta da cozinha com umas folhas secas nas mãos, vê-se que tem os olhos brilhantes de felicidade ou talvez estivesse pensando em fazer alguma travessura. E grita, para quem o vejo, com uma voz angelical e vitoriosa dos grandes desbravadores das causas perdidas:

“Quem vai querer peixe,
peixe fresquinho
do grande pescador Bruno?”

Faz uma pausa, verificando quem está olhando para ele, dá um sorriso e pergunta para o tio: “Hoje o Senhor vai pescar, tio?” E olha-o com profunda admiração... E o tio responde que sim... “Não quer ir comigo?”
A mãe de Bruno, tira um longo suspiro, como quem é feliz, abraça o menino: “Vamos ajudar o titio a pegar peixes bem grandes?”.
O homem pega uma das folhas da criança, procura por uma das maiores, para comentar com profundo pesar:
— Ah, meu querido! Os peixes do rio estão cada vez mais escassos e menores... Só num punhado de sorte é que eu pego um peixe grande!
O menino olha-o seriamente. Faz uma carinha de tristeza, mas logo parece ter uma grande ideia: “Então, eu vou colocar os meus peixes no rio para eles crescerem e terem muitos filhotes bem grandes! Como eu, não é, mamãe?”
E os adultos enchem-se de um silêncio luminoso – que é natural no momento de grandes sentimentos puros – olhando bem o menino... Que de vez em quando surgem pessoas como em mundos de sonhos!

 

 

 

 
Poema publicado no livro "Muito moinho pra pouco Quixote" - Contos - fevereiro de 2018