Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

Um novo tempo

 

Se era brasileira não sei porque carregava consigo o tom coberto de vários tons. Não era cabocla nem negra ou mestiça, nem branca nem amarela, nem estrangeira. Nela se percebia a gentileza de sua nobreza cristalizada pelo sorriso pueril e encantador. Portadora de uma suave voz, ela falava como o som da poesia que abria estradas em terras fechadas e distantes…
Era conhecida por toda aquela gente, coberta de pele aveludada, como Luana. Detinha, não a beleza nefasta das mulheres capitalizadas pelos cosméticos e cirurgias plásticas, mas sim, a beleza natural, rara de se ver nesses líquidos dias de modernidade distanciada da tradição e dos bons costumes...
Luana morava com sua vovó numa casinha perto do Árco-íris. De lá, ela via todas as cores do mundo. Ela e sua bela vovó que já ultrapassa a idade de 160.600 anos e detinha uma força como ninguém. Ela era conhecida por todos os seus vizinhos como Estela. Luana e Estela sempre andavam juntas até que o seu avô chegara de bem distante, onde trabalhava a pedido do Senhor Temporaneidade. Seu avô mesmo com a idade de 230.000 anos trabalhava como um jovem de 23 anos… Conhecido por todos como Espaçólio, ele era responsável pelo reajuste dos lugares na Terra… Sempre disposto e dinâmico, percorre a terra a resolver os problemas dos terrestres seres que, como  ele, foi criado para não dar trabalho, mas infelizmente, segundo Espaçólio, o mundo mudou muito porque o Homem tem distanciado de suas reais funções e o dinheiro, sucesso e avareza tornaram-se os princípios que norteiam a vida dos humanos na Terra em sua grande maioria. Sua vovó Estela também pensava a mesma coisa…
Até que um dia seus avós cansados de ver agigantar tanta miséria e fome, desigualdade e desonestidade na Terra, resolveram escrever o Proprietário do Mundo, o Senhor Eu Sou pedindo que os aposentassem porque não estavam a suportar tanta corrupção e desrespeito causado pelo ser que foi criado para servir a Eu Sou e eles estão a servir uns aos outros, de acordo com os mais sórdidos interesses que tiram a dignidade de cena, e em seu lugar, estão a colocar a desonra e incredulidade, além da individualidade e da falsidade.
Assim, passado alguns séculos, o Senhor Eu Sou resolveu dar a resposta à carta escrita por seus mais obedientes seres criados para servi-Lo e servir ao Homem. Assim o Senhor Eu Sou disse:
– Tenho observado a angústia de meus mais fiéis servos e resolvi dar ouvidos a vossas súplicas. Mandarei para a terra dois grandes Seres Resplandecentes, o Anjo Arcanjo e Miguel. Um ficará ao Norte do Brasil e o outro ao Sul. O do Norte limpará da Terra os anjos caídos que andam a ceifar desordem e corrupção no país que eu escolhi para ser uma grande nação; o outro adentrará o Congresso e definitivamente tirará de lá todos aqueles que estão a praticar o que é ilícito e ilegal. No prazo de um ano, a partir de hoje, o Brasil, nação que Eu escolhi para ser o principal país gentil mais próximo de meu projeto de criação. Após um ano, o povo não votará mais em ninguém porque um terceiro Anjo Eu enviarei para soprar aos ouvidos de todo o povo a não votarem… E assim, se cumprirá o que eu tenho escrito. Um novo governo será erguido com novos homens e novas mulheres, vestidos de humanização, justiça e cidadania, e fará desta nação, um lugar próspero e abundantemente repleto de criação, inovação e transformação. Mandarei um outro último Anjo, e este limpará a Terra das falsas e perniciosas religiões que propagam o meu Santo Nome em vão… Um novo tempo virá, munido por novas verdades, e amparado por um só Nome, o nome dos nomes, o nome de meu filho único e Salvador, e a primeira capital deste país conhecerá que Eu sou a Real Verdade.
Luana, abraçada aos seus avós, deu um sorriso que não conseguia dar, há 518 anos atrás. E novamente consegui, depois de tantos anos, dormir e sonhar, sonhar e dormir porque o país que ela escolheu morar, com a permissão do Senhor Eu Sou, finalmente, libertou-se das amarras coloniais e das velhas heranças que escravizavam este humilde e abençoado povo brasileiro.

 

 

 

 
Poema publicado no livro "Muito moinho pra pouco Quixote" - Contos - fevereiro de 2018