José de Sousa Magalhães
Piracuruca / PI

 

 

Eu vi



         Hoje acordei como todos os dias, porém, não tinha ninguém na minha casa comigo. Achei estranho, pois todos os dias era comum eu ouvir o radinho da minha avó tocando aquelas músicas de Igreja, ou o meu avô assoviando alguma música brega antiga.
         Resolvi descer, percebi que a TV estava ligada, e nem sinal de morador havia nesta casa! A TV estava no jornal, passando alguma coisa sobre caos e pessoas trancadas em casa e que isso só iria piorar. Não liguei muito e fui na cozinha verificar se tinha alguma coisa para eu tomar com café, mas não havia nada, me mesmo uma louça suja para lavar. O que aconteceu?
         Resolvi sair de casa e verificar se meus avós estavam lá fora, mas o que descobri foi que todo mundo havia sumido. Eram 7 horas da manhã e não havia ninguém indo para seu trabalho, ou os guardas liberando o trânsito, nem mesmo o entregador de jornais, senhor Paulo que sempre estava ali pontualmente às 7:03, apareceu.
         Comecei a tocar de porta em porta e ninguém saía. Bati na porta de todos os vizinhos e nada, até na casa do André eu fui, e dessa vez nem o cachorro bravo latiu comigo. Decidi ser ousado e bater na casa da velha Odete, se ela soubesse que alguém batia a sua porta, ainda mais sendo um moleque, ela sairia esbravejando com sua vassoura na mão, mas dessa vez, sem resultado.
         Parece que durante o meu sono, todos foram embora. Desisti de bater nas portas, sentei em um banco e comecei a pensar no que poderia ter acontecido. Durante um tempo, pensativo, comecei a reparar no céu, o quanto estava limpo aquele dia, não se via a fumaça dos carros, e consegui ver ainda próximo do mato, alguns coelhos, algo impossível de se ver por conta do barulho e das pessoas que ali passavam.
         Resolvi voltar para minha casa, para pelo menos tentar fazer algo para comer, já que nem café havia tomado. Foi quando eu vi um vulto ao longe em uma casinha, não sabia ao certo de quem era, resolvi ir lá e ver se tinha alguém. Ao chegar lá e olhar pela janela, percebi que havia um senhor olhando para uma foto e chorando, parecia ser algum parente... logo após guardar a foto, ele tossiu pelo menos umas três vezes, e eu acordei!

 

 


 




Conto publicado no livro "360 roteiros para um destino"
Edição Especial - Abril de 2021

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