Jonatas Rubens Tavares
São Francisco do Sul / SC
A porta aberta
Há anos Otero movia-se freneticamente, desaparecia por aí, corria, corria, sem sair do lugar. A porta aberta, ao amanhecer, deu-lhe subitamente acesso a um imenso e totalmente novo leque de possibilidades.
-Atenção senhores passageiros com destino a...
Aonde quisesse ir! O mundo lá fora, tão grande, tão rico, tão inédito. Como – ou melhor por quê – rejeitaria ao chamado?
-O trem partirá em breve, senhores passageiros. Favor...
Otero já tinha o bilhete para a aventura! O destino estava por definir. Quem sabe cada dia uma nova história?
A casa vazia, estação ferroviária fria e silenciosa, revelava que não havia, para Otero, ninguém de quem se despedir. Era mais fácil assim...
-Não se esqueçam de etiquetar as suas bagagens, senhoras e senhores...
Não tinha feito as malas! Desesperado, Otero percorreu a casa esbaforido, cego, louco. Que havia de levar consigo?
Tendo caído em si, voltou para diante da porta, a luz do sol lá fora mais forte que nunca. Estava decidido: levaria a si mesmo. Só assim, livre do passado, asseguraria o reinício. Ou quem sabe estaria diante do verdadeiro começo da jornada...
-Assegurem-se de que não se esqueceram de nada...
Otero ficou balançado. E se tivesse esquecido? Não voltaria para buscá-lo. Não poderia. Aquela era viagem sem volta. O que havia ali, em sua vida, no entanto, o que restara, que exigiria a sua presença? Que fazia ele que não poderia ser realizado por qualquer outro? A viagem, Otero agora percebia, era passaporte para uma nova vida. Um novo sujeito nasceria. A partir de então talvez até mesmo trocasse de nome...
-Senhores passageiros, atenção! Última chamada...
Lágrimas nos olhos, coração aos pulos, Otero, com um único passo atravessou, decidido, o umbral da porta. Tão logo o fez a composição abandonou a estação. A cada passo dado, mais e mais distante iam ficando a sua casa, as suas recordações, a sua vida.
O trem acelerou. Novas paragens o aguardavam.
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