Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

 

Destinos nem sempre amáveis



        

Lá pra março de 2020, tudo vai passar.  Logo estaremos nos abraçando.... E lá se foram 365 dias de vã esperança. 
Quando pensamos que vai dar sinal de passar tudo volta ao início, com mais força ainda. E, haja paciência. É uma pandemia? Ou é um castigo dos deuses do Olimpo? 
Os brasileiros, um povo muito alegre, gostando de confraternização, de abraços, um aperto de mão, não basta.... As rodas de chimarrão, aonde a conversa corre solta, os olhos captam até os sonhos muito bem escondidos. Enquanto a cuia passa de mão em mão elas se tocam. As energias se misturam e assim se tornam maiores, somam boas vibrações.
E, durante um ano nada disso foi possível. Aqui no Sul do Brasil, país amado, o chimarrão é a alma dos encontros. Enquanto se sorve um Bom Amargo a amizade se consolida. 
Parece incrível que vivemos ou que estamos passando por tudo isso. Se uma fadinha tivesse soprado nos nossos ouvidos, teríamos dado uma boa gargalhada. 
Embora a humanidade já tenha vivenciado crises mortais como essa e por longos períodos parece ser impossível e insuportável a nós mortais do século XXI estar acontecendo. O importante é termos fé, pedir proteção ao Senhor da Vida e seguir adiante. Em cada amanhecer saber agradecer o novo dia ao qual fomos selecionados para viver. Não somos uma geração que sabemos agradecer. Às vezes pensamos que somos semideuses imunes a qualquer acontecimento funesto ao irmos dormir para restabelecer o corpo cansado louvar o Criador por nos ter poupado. 
Viver isolado é contrário à nossa condição humana, somos seres sociais. Desde que o nosso imaginário alcança, sempre convivemos. Seja quando andávamos em cima das árvores, dando o braço para quem tinha dificuldade de subir. Ou uma forquilha mais aconchegante para dormir. 
 Desde que aprendemos a ficar em pé e corremos felizes pelas savanas, para abater a caça ou fugir dos predadores, a nossa consciência já possuía a centelha do convívio fraterno. Voltava com a caça e repartia com o grupo.
Em volta de uma fogueira desenvolvemos a falar justamente para compartilharmos como tinha sido o dia de cada um, ou o dia do grupo. Balbuciando, os primeiros sons, ensinamos outros a falarem.
Na primeira manhã amorosa aprendemos a fazer amor, olho no olho, para ser um ato compartilhado com carinho e não apenas um desejo de animas que estão no cio. No ninho de folhas, já eram elas selecionadas, para ser mais macio e aconchegante, fraternalmente começamos a gostar uns dos outros.
Porém, esses tempos estão nos ensinando um novo viver. Se aprendemos e depois os pusermos em prática, vamos sobreviver. Se não seremos mais um número na estatística.
Queiram todas as potestades que após esse incidente ocorrido no caminho da humanidade consigamos ser pessoas bem melhores e as coisas boas que nos trazem alegria sejam retomadas. 
Já enfrentamos a tantos desafios, muitas outras pragas e aqui estamos. 
Agora vamos sair dessa em condições melhores. Vamos usar as seringas, a temida agulha da muitas vezes dolorosa injeção, os respiradores, os remédios que a Ciência nos ofereceu. Foi inventado e compartilhado. 
Não esqueçamos que sempre tomamos vacinas, desde que elas foram inventadas e nunca olhamos a procedência.  Não é agora que por “ideologia barata” de quem não conhece a História da Humanidade, que vamos ter restrições. Por discursos baratos sem nenhuma procedência a não ser um “desejo pessoal” que não sejamos imunizados.
 A própria história nos diz que os que convivem só com seus umbigos - pois sempre tem os apoiadores (eles sempre existiram) - estão fadados ao esquecimento, logo, logo desaparecerão. Ou serão lembrados com ironia pelos seus desatinos. 
A lenda surgida no Egito da ave Fênix nos ensina que das cinzas renasce a vida. Representa a imortalidade, os ciclos da natureza. A Fênix montava o ninho com incenso, com ervas aromáticas para ser incinerado com os raios do Sol. 
A cinza simboliza súplica, arrependimento. A nossa humanidade está passando por esse processo.
A cinza serve também para lembrar a nossa pequenez e já serviu e ainda é usada para conservar alimentos. 
Vamos ressurgir renovados para um novo ciclo. O Sol que é Luz e Calor será o purificador. A ciência fortalecida pelos muitos sábios mostrará novos caminhos. Os abutres e os insensatos terrão seu fim junto com o maldoso vírus que parece ser um devorador insaciável.
Porém, não nos esqueçamos de nos VACINAR. Esses novos 365 dias sejam de esperança. Sejam de Vida Nova, de um novo alvorecer. Sejam de uma aurora deslumbrante abençoando a Terra toda com sua Luz maviosa e contagiante em cores deslumbrantes que trazem carinho, paz e entusiasmo.
Pois em um ano, que se passou, cada dia, representou um roteiro diferente. Os destinos foram muitos. Mais um dia? Como será? Teremos sobrevivência? Ou vamos sucumbir, entre tantos, aquém até o ar da Vida, o Sopro Divino, foi negado.
Uns felizes, voltam para casa. Outros tem o destino da terra fria, a terra benfazeja que tudo transforma, selando uma sepultura, com um corpo contaminado.
Famílias desoladas, além de perderem uma pessoa querida, para um vírus invisível, nem uma despedida foi possível.
Nem um beijo, nem um até logo.

 

 


 




Conto publicado no livro "360 roteiros para um destino"
Edição Especial - Abril de 2021

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