Ivonei Porto Reali
São José do Rio Preto / SP

 

A partida

 

           

Dali, o córrego era feio e frio, afinal era o Córrego Frio. Em suas águas enferrujadas e salobras, como, de resto, em nosso sangue aguado de meninos mandis, meninos comedores de barro, nadava uma boa galáxia de vermes. De infestação. Buchos brilhosos, os nossos, onde se podia matar facilmente uma pulga, de tão duros, eram nossas corcovas às avessas de meninos camelos.

Dali foi que saiu meu pai, mais cansado do que todos os bois de carro do mundo e de além. Carregou o carro de mesa com a família e os teréns e pôs-se estrada à fora, rumo ao sertão. Sem rumo. Desarrumado! A mãe e metade dos filhos de defruceira braba, os narizes parecendo casas de abelha borá.

Foi assim que fomos simbora. Triste caravana feia e fria como o córrego. E pobre, de pobres-pobríssimos. Paupérrimos...

 

 

 
 
Poema publicado na "Seleta de Contos de Autores Premiados"- Edição Especial - Janeiro de 2017