Gilson Silva de Lima
Itupiranga / PA

 

 

A invasão dos irracionais

 

           

Eram por volta das dez horas do dia na Natureza do Amor. O Sol estava moderador e seus raios invadiam toda a floresta dando mais vida aos seres que desfrutavam dos seus habitats naturais. Principalmente, os passarinhos com suas orquestras magníficas. Em meio a esse cenário pacificador e belo encontrava-se o casal Sonhador e Realidade.
Sonhador era um homem de muitos planos e pouca ação. Já a Realidade era uma mulher que fazia acontecer sem pensar muito. Enquanto um se baseava na emoção, a outra na razão. Brigavam muito! Como todo casal. Mas, sempre davam um jeito de se entenderem depois. Apesar de continuarem discordando ela dele. Enquanto namoravam debaixo de uma árvore formosa com um sombreado circular grande, num cantinho reservado só pra eles, ouviram gritos que vinham da Vila Pacificadora.
Lugar próximo, cerca de quinhentos metros de distancia. Ficaram perplexos, nunca tinham ouvidos gritos daquele jeito. Realidade partiu numa carreira rumo ao local. Enquanto Sonhador fincou pensando:
- Será que eles encontraram uma fruta gigantesca pra gente comer? Enquanto pensava um grito mais afinado chegou aos seus ouvidos, o da sua esposa:
- Vamos homem!
Então, ele resolveu agir e partiu em disparada para o local também. Quando ambos chegaram ficaram surpresos com cenas que nunca haviam presenciado. Várias naves pousando ao mesmo tempo e pessoas saindo aos montes pareciam com eles, só pareciam. Porque dava pra perceber que havia algo diferente nelas. O olhar não era normal, mas eles: o povo da Vila Pacificadora não sabia o significado, nunca tinham visto um olhar tão maléfico.
Foi aí que, de repente, perceberam que todos já estavam cercados por homens cruéis fortemente armados. Apesar de eles não conhecerem armas, viram a demonstração que um invasor fez ao atirar na cabeça de um lobo que gostava de frequentar a Vila Pacificadora. Foi um ato pra intimidar e todos ficaram intimidados. Então, a ordem foi dada pelo chefe dos invasores:
- Façam filas! Todos serão algemados e levados como nossos escravos. Todos os pacificadores acataram a ordem, exceto a Realidade. Realidade argumentou que aquilo não estava certo. Chegar assim sabe lá da onde e ir ditando o que pode e o que não pode de repente. Não está certo!
Mal terminou de concluir o seu discurso quando levou dois tiros acima dos âmagos. O chefe dos invasores soprou a boca da pistola e num ato de exibicionismo disparou:
- Nós somos os invasores irracionais! Não aceitamos contradições e nem fazemos acordos!
Sonhador ficou pasmado ao colocar sua esposa nos braços! E, Realidade como um último murmúrio:
- Homem, é por isso que eu nunca fui de fazer muitos planos e sempre te falei que o mundo não é o paraíso! Mas, mesmo assim te amarei para todo o sempre! Nessa hora, Sonhador teve um pranto de indignação tão forte que escorria lágrimas de sangue e saia sangue da sua boca. Ele que nunca tinha entendido a sua esposa, naquele instante entendeu tudo.
Si levantou, não mais como Sonhador, tinha se transformado e agora era o próprio ódio em pessoa. Deixou-se levar preso e depois de um ano de escravidão, mais maduro, arquitetou um plano, conseguindo assim libertar todos os seus companheiros do cativeiro. Juntos conseguiram eliminar todos os invasores irracionais. Foi ai que perceberam que já não havia Vila Pacificadora e nem mais Natureza do Amor! Só indústrias modernas construídas no local. Então, resolveram construir um Vila chamada Realidade. E com o passar do tempo sem perceberem aceitaram a cultura dos irracionais deixando-a se espalhar pelo mundo.

 

 
 
Poema publicado na "Seleta de Contos de Autores Premiados"- Edição Especial - Janeiro de 2017