Rubens Alves Ferreira
Taguatinga / DF

 

Sublimação

 

           

 Acometimento doído que se aduna com o Tempo... seja o que Este for: envelhece de espera; mas não perece. Como nossos corpos... jovens e magnéticos atiçados por olhares elétricos. Seu olhar e sorriso, algo à parte que diz sem que eu saiba e promete, seduz, hipnotiza. Faz acreditar em gozos e mistérios. Por muitas vezes, eu a vi num fluxo de sombras e expectativas: doce, sensual e sedutora ao meu chamado; e todo eu intentava sua busca e o nosso reencontro. Tudo pulsava por esse momento no comungar-se de nós numa simbiose sedenta e faminta – Um e singulares na proposição de realizar-se. Acontecia antecipadamente uma catarse restauradora, guardada nos percalços de tempo e espaços. Sinestesia com isso de uma expectativa sagrada de nós; em que a esperança se encarregou de projetar, por si só, um futuro possível e retificador de anos e desencontros. Contudo, a confiança ansiosa e descuidada abriu a guarda, cedendo lugar ao engodo e sofisma alheios que foram solícitos à tarefa de “facilitar” nossas buscas.   Ocorreu que em um momento que era quase presença, e tudo estava destinado a Ser. O alheio envidou a desídia em vetores de pura maldade e despeito. Encaminhei-me – para entre corridas, chamados e aflição – constatar que seguira rotas erradas, acompanhando pessoas que sentia não ser, nem ter de você a doce presença, materialização e realização. Informações difusas... voltei e escolhi, por minha conta e desespero, uma nova direção, atalho, e novamente me achei perdido e só, nas vastidões do nada saber. Rodei em vão por ruas que reincidem em meus sonos perturbados. Enquanto isso, você continua sonho nas noites, imaginação pelos dias modorrentos; e os meus pensamentos são procura e solidão.

 

 

 
 
Poema publicado na "Seleta de Contos de Autores Premiados"- Edição Especial - Janeiro de 2017