Maria Rita de Miranda
São Sebastião do Paraíso / MG
Eu quero trabalhar, senhor deputado!
Eu quero trabalhar, senhor Deputado!
Esta era uma frase temida depois que o senhor Deputado contratou um aposentado, só para retribuir o favor de um amigo.
A indignação tomou conta daquele senhor de idade um pouco avançada, já no primeiro dia de trabalho. Chegou ao escritório mais cedo do que o combinado e se deparou com uma senhora sentada à mesa, cercada de mais cinco jovens, conversando animadamente.
-Gostaria de falar com o senhor Deputado...
-Ele ainda não chegou.
Uma olhada rápida no relógio e, vendo que chegara cedo, sentou-se para esperar.
-O senhor tem hora marcada?
-Estou sendo admitido hoje.
-Ah! Então já faz parte da nossa equipe.
-E o que devo fazer?
- Por enquanto pode continuar aí mesmo.
O tempo foi passando. O pequeno grupo saiu para almoçar. Regressou e continuou tudo nas mesmas.
Pouco mais tarde entra o Deputado que, olhando aquele homem, graceja:
- Ah! O senhor já chegou...
-Podemos conversar para que eu conheça a minha função?
Entraram os dois para uma sala reservada. O gabinete era de bom gosto e mais ainda a bebida servida.
-Então o senhor quer conhecer sua função? Tudo bem... Não precisa cumprir horário determinado. Vem, verifica tudo, faz uma horinha e vai.
O aposentado voltou para casa sem entender exatamente o que o senhor Deputado quis dizer.
No dia seguinte a mesma coisa no ‘trabalho’. E no outro, no outro e mais no outro. Tudo igual, ou seja, nada para fazer.
No final de uma quinzena, já desanimado e cansado de não fazer nada, o novo contratado (milagre) encontra-se, mais uma vez, com o senhor Deputado. Levantou-se de sua cadeira e falou em alto e bom tom:
-Eu não aguento mais esta inutilidade! Vocês não querem, mas eu quero trabalhar, senhor Deputado!
|
|
|
|
|