Teresa Cristina Cerqueira de Sousa
Piracuruca / PI

 

A galinha do ovo azul

 

 

É verão! A galinha sai do galinheiro e canta forte: cocó-cocó!
O chão do terreiro todo estampado de flores amarelas: o ipê está ao lado da cozinha. “Ah, vou ciscar por aqui!” pensa a galinha. Suas penas pretas sentem o vento da manhã.
— Canta mais alto!, grita o filho da dona da casa.
As demais galinhas espantam-se no terreiro e correm em direção ao galo, todo de esporas salientes na porteira do quintal. Os pintinhos, de bicos arranhados por ciscarem a calçada de cimento, e com os olhos arregalados, escondem-se nas plumagens das mães, mas se aventuram para dar uma olhadinha na direção do menino.
Todas as galinhas entreolham-se, murmurando: “Lá vai o menino pegar mais ovos no galinheiro!” — e erguem as asas, olhando novamente na direção do galo.
De cima da porteira, com a crista levantada, o galo abre o bico: “Coco rococó!” As galinhas resolvem, então, esquecer-se do menino e passam a beliscar uns pés de capins verdes, e se espalham por perto da casa.
E é com grande alvoroço que o menino sai com um ovo azul em uma das mãos:
— Mamãe, mamãe, a galinha preta pôs um ovo azul! Olhe, olhe!
A mulher sai pela porta da cozinha, sorri para o filho, e responde:
— Você tem certeza que o ovo é dela?
— Tenho, eu estava aqui quando ela saiu do galinheiro cantando e antes eu já tinha recolhido os ovos das outras duas que estão pondo também.
A mãe tem um sorriso de gente que ama sua cria: os olhos têm um alarido de luzes pela felicidade da criança.
E o menino corre atrás da galinha de penas pretas. E todas as aves passam a correr no terreiro: “COCO ROCOCÓ!” faz o galo pulando da porteira e perseguindo o menino.
A mulher se aflige e grita para a criança fugir do galo.
— E deixe as galinhas sossegadas, pois precisam comer para terem muitos ovos, inclusive, os azuis!
— Amanhã tem outro ovo azul para mim! — retruca o menino antes de entrar em casa.
No terreiro, cujo dono é o galo, há fortes cantos diante das galinhas. E todas elas passam a ter uma familiaridade – que algumas quase sem saber procuram pela galinha dona do ovo azul. Uma delas pronuncia; “Mas como você está de asas vistosas!” Outra opina: “Eu queria ter minhas penas da cor das suas!” E uma galinha de pintinhos questiona: “O que é que você come que nós não comemos?”.
A galinha do ovo azul passa uma asa pela cabeça, anda um pouco no terreiro, e responde: “Deve ser porque gosto de ciscar à sombra do cajueiro, lá onde a cozinheira derrama as cinzas do fogão a lenha!” As demais galinhas olham umas para as outras, sob a vigília do galo, e correm para o chão repleto de folhas secas do cajueiro e de cinzas do fogão.  
Ah! mas a galinha do ovo azul é distinguida ciscando embaixo do ipê amarelo...
Não é porque as penas são pretas, nem o porquê vem do som dos pés caçando pedaços de flores no terreiro, mas talvez seja por ela ciscar pensando: “É festa no chão? Ah, vou é aproveitar!” E o vento vai e vem, questionador, rodopiando querendo saber por que a galinha cisca tanto como se fosse é dançar, que modula carregando as flores: “Por quê?”.   
Pois a galinha cisca simplesmente para procurar comida na terra.
E todo dia ela vem com o bico. Prova e come – e anima-se para ter ovos diferentes e bonitos!

 

 
 
Poema publicado na "Seleta de Contos de Autores Premiados"- Edição Especial - Janeiro de 2017