Vicente Izidrö de Souza
Ubaitaba / BA

 

Vida de Jorge

 

 

Jorge estava sentado à beira do mar. Suas mãos estavam frias em pleno calor do verão ilheense. Ao olhar para a infinitude do horizonte, uma lágrima criou um caminho em sua face de forma que muito rapidamente vieram outras seguindo o mesmo caminho até caírem no chão. Jorge estava pensando em sua vida, nos seus ideais para o futuro que parecia não ter a mesma infinitude daquele horizonte,  onde o azul do mar confundia-se com o azul do céu. Ele acabara de  receber o diagnóstico daquela doença que o atingia. Foi então que decidiu fazer uma viagem até o lugar em que nasceu. Queria perpetuar sua existência naquele lugar,  onde poderia sentir o cheiro do cacau secando na estufa, no mesmo momento em que sua avó Urânia preparava um café plantado, colhido e torrado no quintal da casa. Seu destino era uma pequena fazenda entre Ilhéus e Itabuna. Ele poderia ter entrado em um ônibus e em menos de uma hora estaria no seu destino. Mas Jorge fez diferente, pois queria aproveitar cada momento de reflexão daquele dia. Decidiu andar pela estrada, como fazia com seu avô. Ao caminhar, observou o quanto aquela estrada era bonita, ladeando o Rio Cachoeira e repleta de fazendas de cacau revitalizadas, assim como outras com a mesma beleza que pareciam abandonadas. Enquanto se admirava com tudo o que via, com todo aquele verde da Mata Atlântica, diversas borboletas coloridas atravessavam a estrada. Jorge novamente chorou. Lembrou do dia em que sua irmã mais nova o perguntou como as lagartas se transformavam em borboletas. Foi então que pensou se o correto seria buscar por uma solução para o problema, ou se deveria  ficar com aquela vontade de chorar. Ele realmente tinha aquela doença? Como a sua noiva ficaria? E seus pais que tanto o amavam? Seu celular tocou no mesmo instante em que outra lágrima caiu ao chão. Era sua mãe que não sabia de sua ida à Ilhéus, nem mesmo que ele estava definhando por dentro. Ela perguntou quando ele retornaria para casa (em Salvador), pois todos estavam esperando por ele. Aquela noite era seu aniversário de vinte anos. Jorge tentou não chorar e falou que não sabia quando voltaria. Tranquilizou sua mãe dizendo que havia trancado a matrícula na faculdade e que estar na fazenda dos avós era muito bom para ele. Não se sabe se sua mãe o ouviu, visto que a rede de celular falhou e a ligação caiu muito antes que ele percebesse. Em Jorge havia um reboliço de sentimentos, vontade de chorar, de correr ou de ficar ali parado em silêncio ouvindo o barulho dos pássaros, do rio... Do Rio Cachoeira! Ele quis chegar até o rio, o que não foi muito difícil. Tirou os sapatos e sua calça. Tentou tirar a camisa,  mas percebeu que havia saído sem ela. Jorge quis entrar no rio para lavar a depressão, mas o rio acabou levando a sua vida.

 

 

 
 
Poema publicado na "Seleta de Contos de Autores Premiados"- Edição Especial - Janeiro de 2017