Maria José Zanini Tauil
Rio de Janeiro / RJ

 

Dura realidade

Acordei...  senti então que o tempo passou e com ele, a vida, pois sonhos se dissiparam.

A corda que nos sustentava  se rompeu, as hastes se curvaram e derrubaram  flores soberbas...
pobres botões que seriam buquês. Raridades se partiram... achados se perderam e já nem sei onde foram parar aqueles poemas de amor que te dediquei.

Delirantes sentimentos desnudaram os nossos desejos. Tudo que esperava era sonho no
 inevitável encontro porque já vivia junto de ti, embora sozinha, sem as carícias mansas e serenas e a ventura de ter-te no ninho em extremos de afeto...de carinho. Enquanto não vinhas, eu ia regando a aridez do caminho para que  brotassem  lírios e açucenas...

Houve tempo em que encontrei o olhar extático da sorridente aurora. Os nossos olhos sintonizados buscavam o mesmo horizonte, de onde vinha um  perfume a nos envolver, de sândalo e verbenas. Roçavas em mim a  tua cabeleira gris e beijavas minha pele de maçã madura com rara e singular doçura, cercando minhas emoções, minhas  ânsias e apelos, estremecendo meu corpo inteiro.  

Por todo o tempo, teu corpo foi a minha única paisagem, como vindimas em repouso, asas molhadas e pés enxutos. Pastoreei tua pele na hora propícia feita de auroras e declínios, onde te brindei com a minha iniciação.

Eu sei, prometi que o amor me livraria de chegar ao fim do caminho, de chegar ao fim do corpo,de chegar ao fim da claridade. Jurei que  seria como  leitura inacabada para ti...sem sombras; que seria pele e pergaminho, onde escreverias a nossa história. Mas para isso,  meu querido, precisávamos nos encontrar na encruzilhada do corpo e da alma...e isso jamais aconteceu.

 

 

 
 
Poema publicado na "Seleta de Contos de Autores Premiados"- Edição Especial - Janeiro de 2017