Alberto Magno Ribeiro Montes
Belo Horizonte / MG

 

 

Caboclão

(Para meu sogro Vitório Perovano)

 

            De quando o vi pela primeira vez não me recordo. Mas de todas as outras vezes, não me esquecerei jamais. Tu és o homem no real sentido da palavra. Viveste em uma vida, o que muitos, em várias não conseguiriam. Painel vivo das paixões humanas incontidas.
            O vento forte do minuano de teu coração é capaz de derrubar o Ed. JK. Ali tem peixe! Exclamaste feliz, ao ver a Lagoa da Pampulha.
            Mas que coisa estranha: Aqui a escada anda, sobe sozinha! É só segurar os “correon.” Barbaridade!!! É a maior novidade que vi na cidade! Dá gosto sair só para poder andar nela! 
            E os bois do curral cercado da Serra do Curral, onde estarão? Tanto pasto e nada… Só a cerca de arame farpado ( qu’eu nunca havia reparado), a esperá-los. Eh, Minas, onde está seu gado?! A caminho de Ouro Preto, num barranco à beira da estrada, eis que avistamos um. Quanta alegria! Ao menos um para contar a história. Não vim de tão longe para não ver nenhum gado. Para ver somente tantos pastos vazios.
            No cantinho do sofá, quietinho a te escutar, teu bisneto, a ouvir atento, histórias que passará, quem sabe, aos filhos e netos dele. Seus ouvidos são apenas intermediários, através das várias gerações que virão. E todos, em silêncio a te escutar e deleitar com teus “causos” incomparáveis. Não tanto com os casos, mas com tua maneira única de contá-los.
            E do que é que o velho gosta? “Churrasco, bom chimarrão, fandango, trago e mulher” como diz a canção? Várias mulheres tiveste na vida. E dizias: Um homem, sem mulher, não vale nada… E tá acabado! Elas se foram e tu ficaste. No dia em que tu partires, todos nós partiremos um pouco também. Levarás um pouco de nós e deixarás muito de ti.
            Se tu pudesses, com tuas ideias, consertar o que há de errado no mundo, ele seria um lugar bem melhor de se viver. Não haveria miséria, injustiça. Os fracos e oprimidos te agradeceriam.
            És a um tempo só, valente e sereno. Os lobisomens da noite ainda te amedrontam… E os gambás, continuam ainda a fugir assustados, de ti. Não mataste ninguém, mas quase… E quase morreste também.
            Não sei o que é maior: O carinho que tens por mim, ou o que sinto por ti.
            Agora, já velho e cansado, voltaste a ser criança outra vez… Quererás viver tudo de novo? Bem que merecias!

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Seleta de Contos" - Edição 2020 - Maio de 2020