Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

Sertão, lá do Nordeste Brasileiro

 

                

Lá no sertão do Nordeste, rico de histórias, com um povo trabalhador e sonhador, dizem sempre: a chuva vai vir. São José não vai nos abandonar, o vento soprando lá das bandas do litoral vai fazer chover.
Entre as tantas dificuldades, um menino faz a diferença. Na escolinha sem muitos recursos, a professora despertou um sonho. O de andar de jangada.
O pai depois de questionado sobre um passeio de jangada, respondeu:
- Meu filho, jangada é só lá no mar, muito longe daqui.
- O que é o mar??
- Oxênte!! Menino Amaro, você só faz perguntas difíceis. Eu não conheço, mas o compadre Cícero falou que é um rio sem fim e, a água ainda é salgada. Fica muito longe daqui de onde estamos.
- Não é que nem os nossos rios que secam quando não chove, que nem o Jaguaribe? - perguntou o menino.
-E, também muito maior que o Rio São Francisco. Esse rio deságua no mar, no Oceano Atlântico. Até os Índios já o chamavam de OPARÁ, o rio-mar.
- Sabe painho, a professora falou que quem deu o nome foi Américo Vespúcio, ainda em 1501, ele com uma expedição de reconhecimento, navegavam no dia 4 de outubro, o Dia de São Francisco de Assis. Era ele um Franciscano Professo da Venerável Ordem.
As crianças, embora moradores no distante e árido Sertão Nordestino, tinham na escola, uma professora entusiasmada que falava de lugares distantes  e quando podia levava revistas para as crianças. Ela era uma Mestra. O Saber e o Ensinar estavam nos seus gestos no seu jeito de ser.
Sabiam até que a Seca do Nordeste era muitas vezes financiada por políticos que desviavam os recursos, em vez de construírem as cacimbas para armazenarem as águas das chuvas. Os chamados Coronéis do Sertão são os manda-chuvas e se aproveitam dos pobres sertanejos. Deviam ser nobres, ajudarem o seu povo e, ainda usam o voto de cabresto. Muito comum no Brasil até esses dias.
A professora contara também que em Israel, um lugar desértico, muito longe daqui, lá na Ásia, eles usam a água do Mar Mediterrâneo e fazem a dessalinização.
A professora ainda ensinou que há mais de 12 mil anos a.C. já se usava  a água subterrânea. E, foram os  chineses que  dominaram a técnica de perfurar poços. A Bíblia fala da busca por água potável. A Samaritana e Jesus no Poço de Jacó, o Poço de Sicar, foi escavado numa rocha sólida há mais de dois mil anos. Hoje está situado perto de um Sitio Arqueológico de Tell  Balata considerado o local onde que foi Siquém. O poço, existe até hoje no Mosteiro Ortodoxo Oriental de Nablus, na cidade do mesmo nome na Cisjordânia.
- Nossa  menino, eu queria ter tido uma professora assim,  mas nem na escola eu fui. Aprendi fazer o meu nome, e ler um pouco quase sozinho. Diga pra tua professora que eu mando um abraço pra ela.
- E, você com teus colegas aproveitem bem as aulas. Prestem atenção no que ela ensina. Para não serem uns babaquaras que nem se fala aqui na caatinga.
- Eu também sei que o nome caatinga, em tupi-guarani quer dizer: "mata branca", cor predominante da vegetação durante a estação seca, onde quase todas as plantas perdem as folhas, para diminuir a evaporação e a água armazenada em seus galhos. Elas têm bastantes espinhos e raízes profundas com as espécies de xiquexique, aroeira, umbuzeiro, caroá, juazeiro, mandacaru, cacto. Esses vegetais estocam água no caule e nas folhas, para enfrentar o período seco. Quando chove se renovam com árvores cobertas de folhas e pequenas plantas forrando o chão.
 - Mas eu, vou te falar das cacimbas, disse o pai, a gente não aprende só na sala de aula.
Cacimba é uma fonte de água importante durante o período de seca no sertão, principalmente para os animais. Lá na nossa reunião disserem que:  a busca de soluções para essas calamidades já são feitas desde o século XIX, quando em 1845 o Imperador D. Pedro II deu início às primeiras iniciativas locais de combate às secas.
Você Amaro – assunta - bem que muito antes ainda no tempo dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó que viveram num país com um clima semelhante ao Nordeste, por isso tinham que providenciar água para o povo de Deus. Eles iam cavando poços manuais. Assim Jacó, cavou um poço com trinta e dois metros de profundidade na região de Samaria, de onde muitos séculos depois, como você já sabe, Jesus tomou água com a Samaritana.
 Os patriarcas com suas famílias também cavaram cacimbas de areia nos riachos secos. As aguadas eram poucas e assim houve brigas entre a vizinhança como acontece ainda hoje em dia. Quantos fazendeiros já roubaram a água das mãos do povo? Isaac resolveu o problema da água para a sua comunidade, defendendo-a, e assim ele é exemplo para todos nós.
Por meio da coleta e do armazenamento de parte das águas que caem nos 3 ou 4 meses de chuvas no sertão, as famílias podem conseguir água não só para beber como também para os animais, para as plantações, para ser  usada durante o restante do ano, período em que não chove. Agora, construímos Cacimbas que são assim com grandes caixas de água.
-Como você sabe tudo isso??
- Aprendi nas nossas reuniões  e também li alguma coisa na Bíblia.
- É painho, não é só na escola que a gente consegue aprender.
Sabe, já que a tua vontade é conhecer o mar vou e eu também. Tenho essa vontade, vou falar com o compadre Fermino. Nas próximas férias vamos viajar no Velho Chico, conhecer os carranqueiros que contam . . .
- Será que eu não vou ficar com medo das Carrancas?
- Cadê a tua coragem de nordestino que enfrenta a Seca do Sertão? O compadre Sebastião me contou a lenda:
 - Dizem eles que tem um nego d’água no rio, que sempre queria virar as embarcações. Por isso  quando colocaram a carranca na proa do barco, ele via, tomava medo e assim não encostava,
Como nós colhemos a nossa macaxeira,  que esse ano deu bem, pois choveu  no Sertão  e, assim levamos no Catamarã,   também vamos    trabalhar fazendo  cuscuz pro café da manhã.   Assim nós dois vamos conhecer o mar e andar de jangada.
- Oba! Vou estudar bastante e conversar com a professora para saber tudo sobre uma jangada e o que é o mar.

 

 

 
 
Publicado no Livro "Seleta de Contos de Autores Premiados" - Edição 2018 - Setembro de 2018