Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

Só mais uma vez, amanhã talvez

 


           Quem são os novos filhos deste mundo feito por homens e mulheres plantadores de batatas? Quem são esses mercadores de “mercadorias” entregues ao mundo do “deus-dará”? Quem são os insensíveis fabricadores de novas crias maltratadas por suas abomináveis e aberrantes atitudes? Quem são esses destruidores e distribuidores de discursos que não se veem e nem se mostram? Quem são esses visíveis reprodutores de almas invisivelmente despercebidas por esta acéfala humanidade? Quem são?
           Estão a todo vapor a trabalhar em seus intensos desejos capitais. Estão a lucrar do lucro sujo que só se ver por aqui, nesta terra sem lei. Estão a caminhar pelas ruas como almas insensíveis, pedras quebradas, desalmadas, alienadas. Estão nos quatro cantos deste imenso país violentado por tantos bêbados bichos que sugam da pátria o ouro intelectual de seus viajantes.
           São feitos de tecidos podres. Encarnados em corpos retrógrados. Desejosos por sonhos a se realizar num pequeno espaço de tempo, não medem esforços para dar a rasteira em quem deseja cair sob as suas armadilhas discursivas. São ditadores de “rotas alteradas”. São folhas caídas e retraídas. Folhas nascidas em árvores tão facilmente sujeitas à corrupção dos olhos soberbos. São e estão nos jardins sem rosas, nas praças sem flores, nos rios poluídos, nas florestas queimadas, pois são eles os criadores de leis que dá ao homem seu fim ideal e à natureza sua liquidação. Liquidam rapidamente seus capitais e afortunam-se de forma efêmera e assustadora…
           Onde estão ou como vivem, o cronista desta curta empreitada discursiva sabe dar a devida resposta, mas como paciente ativo deste vasto mundo maltratado por imbecis desumanos, ele prefere dar ao leitor o gosto de dar a resposta conforme a estrada trilhada, seja pela vanguarda margem que se liberta da opressão, seja pela triste lágrima que não se conforma com a sua construção.
           E, se de repente, alguém resolve compreender como podemos aceitar a existência de tanta corrupção em nosso majestoso e rico congresso, bom seria que você deixasse de ler pelo centro do texto, e passasse a ler pela margem escorregadia da forma que deforma a forma em sua violenta construção. Bom seria! Bom seria! Mal-me-quer, bem-não-me quer! Quem tem medo de lobo-mau precisa olhar-se no espelho. Ler-se por inteiro e tirar de si a imagem distorcida e estragada da imagem do outro que assalta a sua própria imagem!
           Bom seria! Sim. Não. Talvez! Bom seria que todo olho pudesse olhar para dentro de si e ver no outro o seu não-outro! Não seria uma ameaça. Sim, seria uma descoberta. Talvez, um dia, distraidamente, eu deixe de ser esse ser que não se mostra, esse ser desprovido de desejo, esse ser que não se deixa partir, esse ser que não se deixa ser. Não seria um homem desnudo. Sim, não, talvez! Quem sabe, um dia, eu consiga olhar para dentro de mim, e ver que o que eu deixei de fazer, não o fiz por falta de confiança em mim. Sim. Por falta de uma certeza que arrebentasse com toda a minha incerteza e fizesse de mim um rio que nunca dorme, um rio que pensa por meio de águas moventes, águas vivas, águas tão modificadas por um imenso oceano que existe em mim.
           Sim. Não. Talvez. Tudo bem! Sinto que estou no caminho certo… As águas já tocaram em mim, falta apenas o mar do abraço feito de carne, feito de tempo, feito de sangue, feito de verso. Vivo verso motorizado. Longe do mundo digital, perto do sonho ideal. Sim. Não. Talvez. Tudo bem! Ponto final.
           Sim! Não! Talvez! Só mais uma vez! Amanhã talvez…

 

 




Conto publicado no livro: "Sortilégios"- Edição 2021
Fevereiro de 2022

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