Deise Pontes
São Gonçalo / RJ

 

 

Perfeito demais

 

          Olhava o mar sentada no banco de concreto do calçadão, aquela visão lhe dava paz e a calma necessária que precisava, ajudava discernir as ideias, quando ouviu seu nome ser chamado:
          - Veridiana!
          Ela se virou para olhar, sim era ele.
          - Rodolfo, é você mesmo?!
          Havia uma semana que eles tinham se conhecido em um aplicativo de namoro, ele professor universitário de Língua Portuguesa, estava dando as aulas de casa, era culto, inteligente e educado, o papo entre dois fluiu levemente. Veridiana trabalhava numa multinacional do ramo aduaneiro, há um ano trabalhando em home office, ela o achou interessante, pois diferente da maioria das pessoas, Rodolfo não costumava abreviar as palavras, usava as concordâncias verbais e adverbais de forma correta, mesmo digitando em um aplicativo. Agora estavam ali frente a frente, para o primeiro encontro físico.
          Ela fez questão de marcar em lugar aberto, como uma atitude prudente para se encontrarem pela primeira vez. Rodolfo era alto, porte atlético, usava óculos de armação moderna, a idade que ele colocara no perfil era de 48 anos, mas talvez tivesse menos, nas têmporas uns tímidos fios grisalhos. Veridiana ficou encantada só de olhar e pensa consigo: Nossa! Ele é perfeito demais!
          Rodolfo a observava, ela tinha o corpo esguio e bem definido era uma bela mulher, cabelos ruivos cacheados, ele havia assistido um filme de animação da Disney com a filha, tinha certeza que ela se parecia com a personagem principal, mas que não conseguia lembrar-se do nome no momento. Estava bem maquiada, sem exageros, imaginou-a sendo ruiva daquele jeito provavelmente tinha o rosto cheio de sarda, algo que o deixou fascinado.
          Nas conversas pelo aplicativo, Veridiana tinha dito que adorava comida mexicana, já tinha ido ao México duas vezes, uma de férias e outra a trabalho, ele afirmou que conhecia um excelente restaurante dessa culinária, onde serviam o melhor guacamole e os tacos mais saborosos.
          Rodolfo realmente era muito educado, cavalheiro desses que não se vê mais por aí, fez questão de abrir a porta do carro, tanto para ela entrar, quanto para sair, ao chegar ao restaurante puxou a cadeira para ela sentar-se, enquanto esperam servirem o prato bebiam Tequila e conversam como se conhecessem há tempos, por fim ele aproximou a sua cadeira da dela e tascou-lhe um beijo. Veridiana, literalmente derrete-se nos seus braços, se entrega totalmente aquele gesto ardente com sabor mexicano e pensa: Nossa! Ele é perfeito demais.
          A noite transcorreu da melhor forma possível, ele parou o carro em um lugar onde não oferecia risco e puderam ter mais intimidade, entre beijos e abraços, apertos e chupões.
          O desejo ficou latente em ambos.
          Durante a semana conversaram sobre tudo, trocavam fotos, nudes, experiências e a vontade de se verem de novo aumentava com o passar dos dias.
          Veridiana estava ávida para se entregar, não haveria de esperar mais por isso, passou numa loja e comprou uma linda lingerie vermelha, se reencontraram uma semana após terem se conhecido.
          Rodolfo, sabendo da paixão dela pelo mar, levou-a no motel em frente à praia, ela ficou inebriada com todo o tratamento e atenção que lhe oferecia.
          A noite foi inesquecível, Rodolfo era o melhor dos amantes, tinha um corpo maravilhoso, dedos hábeis, uma língua mágica que fez com que ela viajasse para vários lugares e perdesse os sentidos infinitas vezes, uma boca que a beijava e sugava como quisesse descolar sua alma do corpo. Ela não era uma mulher inocente, usou e abusou, fez tudo o que queria e desejava fazer, não houve um detalhe daquele corpo másculo e viril que não tivesse se apropriado. Ele se contorcia e se remexia de tanto prazer, sua boca, sua língua, suas mãos se deliciaram entre as pernas, nádegas e seu tórax bronzeado, por fim ela engoliu todo o seu gozo, terminaram ambos saciados e felizes.
          Naquela mesma noite Rodolfo chegou em casa com a certeza de que tinha encontrado a mulher da sua vida, sua primeira providência foi desativar o aplicativo, não haveria de procurar outra, agora que tinha Veridiana. Tentou telefonar-lhe para dizer o quanto estava feliz, contudo o telefone deu fora de área, provavelmente deve ter descarregado a bateria – pensou ele -, amanhã sem falta ligaria só para ouvir a sua voz.
          Havia passado dois dias, desde que Veridiana tivera aquele encontro mágico, seus pensamentos ainda estavam naquele homem perfeito demais, enquanto tentava ler alguns e-mails, quando escuta barulho da chave abrindo a porta da sala e passos caminham na direção onde se encontra.
          - Quando foi que chegou, por que não me avisou? Eu iria buscá-la no aeroporto, esses dias sem você foi uma eternidade.
          - Hoje pela manhã, queria lhe fazer uma surpresa, gostou? - pergunta ela ao homem parado a sua frente.
          - Meu amor você fica linda de qualquer jeito, esse visual loura fatal está me deixando cheio de tesão – ele olha o redor e pergunta:
          - Aonde estão as crianças?
          - Mandei-as para casa da sua mãe – respondeu ela.
          - Veridiana, eu sou o cara mais sortudo do mundo, porque eu me casei com a mulher perfeita demais! Depois de todos esses anos ainda sou louco por você – ele a pega no colo e vão para o quarto.

 

 

 




Conto publicado no livro: "Sortilégios"- Edição 2021
Fevereiro de 2022

Visitei a Antologia on line da CBJE e estou recomendando a você.
Anote camarabrasileira.com.br/sortilegio21-006.html e recomende aos amigos