Luiz Bastiani
Canelinha / SC

 

 

O causo da capivara

 

         Esta é uma história baseada em fatos meio humorísticos que aconteceu há muitas décadas no Bairro da Índia, em Canelinha, Santa Catarina, e que acabou parando na justiça. Foi por volta da metade do século passado quando havia uma casa comercial de Secos e Molhados e em anexo, um bar de propriedade do senhor Carlos Voltolini. 
         O local era ponto de encontro das pessoas, principalmente das mais idosas que, aos domingos e feriados, frequentavam o ambiente para jogar baralho, dominó ou simplesmente tomar uma cervejinha enquanto conversavam.          Mas, foi numa tarde dessas de domingo que um alarme tirou o sossego e a tranquilidade dos seus frequentadores. Um menino chegou correndo chamando por seu pai, avisando que atrás da casa havia um animal grande do tamanho de um porco querendo avançar para morder as crianças. Ouvindo a estranha notícia, as pessoas foram depressa até o local, a residência do senhor Elias Venier, para ver o bicho de perto. 
         Logo que chegaram perceberam que se tratava de uma capivara tão agressiva que não deixava ninguém se aproximar. Naquele momento e por falta de uma arma de fogo, o senhor Elias utilizando-se de um sarrafo aplicou um golpe na cabeça do animal deixando-o tonto e em seguida foi sangrado. Posteriormente tiraram-lhe a pele, desossaram-no e dividiram a carne entre os participantes da caçada. A gordura que era considerada um excelente fortificante, foi transformada em óleo.  
         Passados alguns dias daquela “divertida” tarde, os participantes  surpreenderam-se ao receberem uma intimação do delegado Cantório Florentino da Silva,  para comparecerem na delegacia, a fim de depor sobre o caso da capivara. Na audiência o delegado relatou aos intimados que aquela capivara era de propriedade do senhor Neca Cirilo, residente no Bairro Moura.        
         - Seu dono alega que o animal fugiu do cercado e desceu pelo ribeirão, e como foi abatido sem a sua permissão, ele exige um pagamento pelo prejuízo sofrido.  
         O senhor Elias, por sua vez, comentou que o animal silvestre, que sem saber de onde tinha vindo, apareceu de repente na sua propriedade, ameaçando atacar as crianças que se encontravam brincando. E disse mais:         
         - Quem deveria ser intimado por falta de segurança em manter um animal silvestre num cativeiro, deveria ser seu dono, sabendo que aquela espécie pode atacar e machucar alguém desprevenido. E é de espécie roedora podendo causar danos às lavouras.  
         O senhor delegado após ouvir o acusado, deu seu parecer favorável ao mesmo, alegando razões no seu depoimento.
         Dando o caso por encerrado, seu Cantório apenas manifestou o desejo de receber uma garrafa do óleo da capivara que pretendia usar como remédio. O senhor Elias disse que lhe daria com muito prazer.  
         Horas mais tarde apareceu em sua casa do senhor Elias o Cantorinho Peixoto para pegar a encomenda. Para finalizar o causo da capivara, os companheiros da caçada levantaram uma dúvida:  
         - Será que seu Cantório, ao abrir a garrafa, teria desconfiado do cheiro do poderoso fortificante à base do óleo da capivara deixado de usar o mesmo como era o seu desejo?    

 

 

 




Conto publicado no livro: "Sortilégios"- Edição 2021
Fevereiro de 2022

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