Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

 

Um grande amor

 

 

                 Moça jovem bonita. Muito inteligente. Professora prestimosa. Gostava de viajar com seus alunos, tanto em viagens nacionais e internacionais como também nas visitas próximas ao município, sempre acompanhada dos estudantes que buscavam conhecimento. Fez doutorado longe de casa, em outro estado brasileiro na busca de aperfeiçoamento e na ânsia de melhor ensinar.
        Casada, com um senhor também jovem. Tiveram uma única filha formada em Psicologia,  e que atuava longe da cidade de seus país.
Muito ativa, sempre pronta atender ao que lhe pediam, pertencia a vários grupos onde era sempre uma figura alegre, comunicativa e bem-vinda. No grupo do chimarrão com seus amigos em cada passada de cuia e toque de mão a amizade se renovava. 
        Na mateada, grupo formado na Universidade, com os colegas que cultivavam a tradição. Na semana Farroupilha danças desfiles e a vivencia da vida Campeira imortalizando nos pagos Gaúchos e vividas em outros Estados brasileiros.
        Os alunos eram recebidos em sua casa, para orientação dos trabalhos e, como boa anfitriã, ela e o esposo ainda assavam um petisco. A gentileza herdada do Sul, presente na acolhida.  
        No Cursilho da Cristandade, muito religiosa, ela e o marido sempre presentes nas segundas-feiras e nas atividades religiosas; no grupo de Baralho para fortalecer a amizade e se descontrair tornando a vida mais feliz;  na pintura a criação de obras de arte, valorizando a vida campeira; no Rotary Pato Branco- Sul muito atuante por muitos anos, Conselheira do Interact acompanhando a filha querida. Depois com outra Conselheira, sua amiga se prontificava a viajar com os adolescentes, pois como norma do Clube exigia a presença e da companhia de Rotariano. Prestava serviço ao Clube e a amiga que não tinha condições de viajar, nos encontros distritais. 
        Foi Secretária em três presidências seguidas. Tinha grande domínio da Internet e no manejo do Computador o que lhe facilitava o desempenho da sua função; no Ryla, acontecido na cidade do Governador que era do nosso Clube. A acolhida aos jovens que demonstravam Liderança e não eram do Interact.
        Ela e sua amiga se desdobraram para que a acolhida aos jovens da localidade e de outras cidades do Distrito tudo fosse a contento. 
        Tinha o dom da palavra, professora Universitária, falava com eloquência. 
        Sempre bem apresentável, se vestia com elegância. Gostava também de viajar com o Clube. Acolheu em sua residência vários intercambiários que faziam estadia em Pato Branco. Adolescentes europeus e asiáticos.
        De vivência alegre e dinâmica, dava conta do recado. 
        Não dirigia, por motivos pessoais. Embora tivesse carteira de motorista. O marido era também seu motorista particular. E, sua amiga sempre à disposição, lhe trazia da Universidade e das reuniões do Rotary. 
Convidada para ser uma das presidentes, tinha na palavra da amiga a disposição de transportá-la, quando fosse preciso.  
        Temperamento forte, opiniões bem consolidadas, muitas vezes enfrentou e, criou desafios com seus colegas de Curso. Era até radical nas suas opiniões, principalmente e partidárias.
        Viajava muito para a sua Terra Natal, seus pais já idosos eram uma preocupação para ela. Qualquer feriado ou final de semana prolongado, após as aulas noturnas tomava o ônibus e amanhecia em Santa Maria.
        A vida corria sorrindo para o jovem casal
        De repente no mês de novembro um alerta, teve um AVC.   Não tinha ainda 60 anos. Todos torciam pela sua recuperação. Mas esse foi o aviso da doença que já estava instalada.  Muitos médicos neurologistas consultados e a triste notícia, é uma doença degenerativa sem cura ainda. 
        Doença traiçoeira e com uma veracidade alarmante. Foi perdendo os movimentos. 
        E em apenas um ano já em estado vegetativo. 
        Só estava viva, pois nem respirar, primeiro ato do ser humano, conseguia fazer.
        Oxigênio, mais de uma sonda, foram seus subsistidos, para estar entre os seus. Sem visão, sem conhecimento algum. Nem a audição lhe foi poupada.
        Com cuidadoras permanentes, fisioterapias, massagens, orações foi sobrevivendo.
        Recebeu amor incondicional do seu companheiro. À noite e nos finais de semana era o guardião amoroso por 24 horas. 
        Uma casa marcada pela terrível doença, mas também por muito amor. Cuidar de quem se ama, mesmo que a pessoa nem saiba mais. 
        Assim por dois anos foi sobrevivendo e a Ciência não encontrou solução para a doença Priônica, que lhe afetou. 
        Em dezembro de 2021 em um sábado, descansou. Ficou o exemplo de sua vida muito bem vivida e do cuidado incondicional do esposo e da filha que mesmo distante vinha passar alguns dias com a mãe, que ainda estava e apenas viva, mas sem qualquer reconhecimento da ação carinhosa praticada. 
        Descanse em Paz, amiga querida, teu exemplo dinâmico e tantas vezes que me ouviu com carinho, a minha gratidão. 
        Foi uma colega sempre presente, uma companheira rotariana  eficiente e amiga prestimosa.


 

 




Conto publicado no livro: "Sortilégios"- Edição 2021
Fevereiro de 2022

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