Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

 

O encontro além-mar

 

Foi lá no distante Israel, em uma das Salas do Ambassador Hotel da cidade de Jerusalém. A onde se fazia a revelação do Anjo Protetor da Turma de Viagem, Caminhos de Luz, quando da excursão pela Terra Santa. Recebiam-se também orientações para o retorno ao Brasil. Como enfrentar a maratona dos aeroportos. Penso:
- Como entram terroristas em alguns países, se a burocracia é fatigante. É tanta investigação, RX que chega assustar e cansar. Como pode entrar armas, como não são diagnosticados. . .
Mas, uma surpresa que sempre me envaidece. Em todo o lugar que eu vou, aqui pelas redondezas, encontro um aluno meu. E, para minha alegria recebi uma declaração amorosa.
Disse ele:
- O meu Anjo Protetor, já cuidava de mim quando eu era um piazito. Um menino ainda, me encaminhando no mundo do Saber. Isso lá na Escola Rocha Pombo, na década de 70, do século passado. Foi minha professora, guardo boas lembranças daquele tempo. Dos carinhos recebidos.
Como um relâmpago, o tempo passado, se fez presente, naquela Sala.  Nos anos 70, quando iniciava a minha carreira no Magistério. Quase uma menina, sem grandes experiências em Sala de Aula, nem grandes vivências sociais.
Convivendo com senhoras professoras de cabelos brancos. Cheias de Sapiências acumuladas pelo dia-a-dia em sala de aula. Eram também  donas da Escola Estadual e do próprio Saber. Afinal, fazia muito tempo que estavam na carreira de Professoras. Já sabiam tudo. . .
A menina, apenas iniciava sua carreira. E, por algumas era tido com concorrente, pois cursava uma Faculdade. Uma honraria, naqueles tempos idos, diferença sem medidas para a época. Aprendi muito com os próprios erros, por isso peço aos meus alunos que se os magoei perdoe-me para que Deus também possa me perdoar. Muitas vezes se erra por falta de experiência. A maturidade é que trás sabedoria. Só se aprende fazer fazendo.
O aluno, Wanderley Ferri, hoje um homem de Bem, Presidente do Conselho Pastoral da Paróquia do Cristo Rei, em Pato Branco, é a comprovação de um trabalho realizado. Alunos crescem e, quando ficam as lembranças é porque alguma coisa boa aconteceu.
No longínquo Israel, em Jerusalém, a Terra Santa o encontro do Mestre com o Aprendiz. Fato vivenciado na América, no Brasil e re-vivido na distante Ásia.
As forças da Vida muitas vezes agem de um modo que nos surpreende. Eu tinha como protegida a Dona Erminia Bertol. Ela trabalhou no Grupo Escolar, que mais tarde se transformou na Escola Rocha Bombo. Fomos colegas por quase 10 anos. Eu, a professorinha e ela, a zeladora. Senhorinha que enaltecia o seu trabalho deixando tudo arrumado, limpinho com cheiro de Bem Querer, nos recebia, professores e alunos, com um sorriso amável. Naquelas manhãs frias ou chuvosas ou ainda com um Sol agradável, era um:
 – Sejam Bem Vindos.
Diz ela:
- Que coisa boa ser você o Meu Anjo protetor. Assim lembramos os tempos de Rocha Pombo. O interessante que me encontro com ela quase que todas as semanas. Embora soubéssemos quem somos nunca paramos um momento mais demorado, para falar desse passado precioso.
 Como uma viagem, em outras terras, favorece a aproximação. A distância regada com a ausência de nossos entes queridos nos aproxima, quando somos da mesma cidade ou do mesmo país.
Para reforçar o encontro, o Guia da Viagem, Nelson Redivo, foi aluno, no seu tempo de criança , nessa escola querida.
Para a nossa surpresa o Senhor Alaor, com orgulho testemunho:
- O meu filho Roberto estudou nessa escola. Foi ele também seu aluno. Assim a sala de Reuniões se fez em uma Sala de Aula. A década de 70 estava instantaneamente presente em 2017. Numa das dependências de um Hotel, em Jerusalém. Esse mundo de Deus e dos Homens é mesmo pequeno.
São artimanhas do tempo, um Senhor, que nem sequer existe, ali, se fazendo presente naquele instante mágico. Quando passei no primeiro concurso Estadual e fui designada para essa Escola fiquei muito feliz. Era ela a mais próxima da minha casa. Um tempo que não se tinha carro, tudo era feito a pé. Tanto em dias de Sol abrasador ou de chuva copiosa.
Lecionei com pessoas queridas, colegas de Escola Normal, inclusive a Diretora, fomos Normalistas do mesmo período. Passaram-se 10 anos de trabalhos diários. Entre lembranças muito boas e, outras nem tanto, se viveu, se fez história. O Grupo Escolar Rocha Pombo situado na Baixada Industrial  a escola da Zona Sul da Cidade, que se iniciava para se transformar na promissora cidade Universitária de hoje.
Foi nessa escola que me completei como Professora, mesmo com os obstáculos encontrados. Posso dizer que me fiz Mestre. Comecei a Faculdade de Geografia, em União da Vitória, a 250 km de distância.  O ônibus era o meio de transporte. Numa estrada poerenta, ainda sem asfalto. Dia de chuva, o barro era o problema, perdia-se o horário de provas, das aulas. Foi só a vontade de estudar que garantiu os sacrifícios exigidos.
Eu lecionava para o segundo ano. Crianças entre  8 ou 9 anos, muitas delas ainda somos amigas Outras nunca mais nos encontramos. No último ano, que lá permaneci lecionei para o Terceiro Ano. Depois de um Concurso para professor de 5ª. a 8ª. Serie e Segundo Graus não lecionei mais para os pequeninos. Abracei o Colégio Estadual Professor Agostinho Pereira.
É a Lei da Vida.  Guardo com carinho esses primeiros anos de Magistério. Ainda convivo com professoras daquele Tempo.
A carreira que se estendeu por 48 anos e 6 meses  teve na sua fase inicial a Escola de 1ª. a 4ª. série,  a Escola do Pinheiro. Era ele altaneiro, símbolo do próprio Estado do Paraná, uma aula viva para as crianças. Mas estava plantado, com certeza, nasceu por conta própria ou quem sabe foi  esquecido pelas serrarias. Por ser  ainda uma pequena árvore, não se prestava para dar boas tabuas. Porém por destino, ou feliz coincidência, nascido ali, bem na entrada da Escola.
Um tempo que ainda não tinha a proteção da Lei. Como suas grimpas caiam eram um estorvo para quem precisava varrer o Pátio. Pobre árvore,  foi sacrificada, sem dó  e nem piedade.
O meu amor pela Natureza me levou a defendê-lo. Falei, expus o meu ponto de vista. Mas só angariei inimigas. Principalmente as zeladoras que odiavam ajuntar as pobres grimpas. Elas teimavam em despencar lá do alto. Algumas professoras, a própria Diretora, justificaram que as crianças precisavam da grama limpa. Não podiam se machucar, caindo por cima das nobres grimpas, enquanto corriam pelo pátio, na hora do recreio.
Em fim, nas primeiras férias o Pinheiro do Paraná, foi sacrificado. Uma voz sozinha não faz muita diferença principalmente entre quem tem o poder, mas pensa de forma diferente.
A Escola Rocha Pombo, escola querida, hoje cedida para o Município e se destaca como Escola de Inclusão, Educação Especial e de 1ª. A 4ª. Serie. Parabéns aos professores que com muita dedicação e carinho cuidam da aprendizagem na Escola que fez e faz história entre as tantas outras espalhadas pelo município.
Saudade de um tempo ido que foi promissor. Os frutos e bons frutos espalham-se por vários cantos, não só na cidade, mas em outros recantos.

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Textos de Grandes Autores" - Novembro de 2017