Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

Levados ao matadouro

 

Foram levados ao matadouro. E lá foram queimados vivos…
Foram levados ao matadouro e lá foram impedidos de respirar. As câmaras de gás os afogavam e eles, inocentemente, tomavam o banho da morte…
Foram levados ao matadouro, e lá foram tatuados como animais e dessubjetivados nominalmente, animalizados numericamente…
Foram levados ao matadouro e ninguém pode salvá-los… Porque o povo estava cego diante dos acontecimentos. Viam tudo silenciosamente…
Os cães preparados pela cor que o diabo vestia bebia de longe o sangue de inocentes… E, por meio da promessa enganadora, prometia salvar o povo de um final infeliz… às custas da morte, da mentira, do preconceito e do ódio sem precedentes…
Foram levados ao matadouro em silêncio e entregues, sem história, memória ou dignidade… Como peças ou mercadorias, tatuados como humanos desumanizados…
Nas valas foram jogados como animais sem valor… Levados ao matadouro, aos campos de concentração, campos de extermínio da razão, campos da destruição…
Separados, sem voz…, eram acompanhados apenas por seus restos sons que a alma aflita sacudia o corpo frio, faminto, sedento, entregue ao vazio de uma dor infinita…
Foram levados ao matadouro, sem direito de serem enterrados, sem direito de serem tatuados, sem direito de olharem para trás, pois os que tentavam olhar ou reivindicar, antecipavam por poucos segundos, sua estúpida morte, invalidada por um tiro de revólver, produzindo nos que viam o horror um vazio do tamanho do infinito desejo de nunca terem nascidos…
Foram levados ao matadouro e como esqueletos dançarinos foram sucumbidos e nunca mais se teve notícia daquelas almas oprimidas… daqueles que foram vítimas de uma máquina de ódio nunca visto pela história da civilização humana…
Foram levados ao matadouro: homens e mulheres indefesos, crianças e idosos inocentes, judeus, muçulmanos, ciganos, testemunhas de Jeová, gays, comerciantes, deficientes, doentes, pessoas de diversas nacionalidades, culturas e línguas. Todos, de repente, num rápido momento de terror, foram tragados por um ódio que nenhum dicionário ainda não foi capaz de definir… arrastados nos comboios do inferno, torturados, mortos e levados ao cemitério das almas partidas…
E os que sobreviveram, sobreviveram como incompletos seres incapazes de compreender sobre a ruína humana causada por insanos sujeitos dominados por um sentimento que foge do Juízo de Deus…
Restou-nos apenas os lugares de memória deste terror que abalou o mundo inteiro e que, hoje, em nome de falsos discursos, tenta, novamente, fazer novas vítimas em países que dão lugar a fascistas vozes armadas por um discurso que esconde o mal, prega o ódio abertamente e declara sanguinariamente defensores da “banalidade do mal”…
Resta-nos apenas a escrita, em forma de prosa e de poesia, para tentar narrar e descrever o que, ainda hoje, é vergonhoso se lembrar… E de quem é a culpa por toda desgraça acontecida? E de quem é a culpa por toda desgraça a acontecer?
De Deus não é porque Deus nunca dorme. Ela envia mensageiros para avisar ao mundo sobre o mal que podem evitar. Se o mal vence o Bem, certamente a culpa não e de Deus. A culpa é de quem se permitiu ser domado e dominado pelo sentimento que adentrou o ser daquele que enfrentou a Deus e vive a procurar nos quatro cantos da terra quem possa abraçá-lo.
Levados ao matadouro como ovelhas mudas, inocentes e dispersas da boa vontade de ser servo, de ser criatura, de olhar com o grau do amor o seu próximo e ler com a devida tradução, munida por um espírito que liberta o homem de suas prisões.

 

 
 
Publicado no Livro "Toma lá!!! Dá cá!!!" - Edição 2018 - Janeiro de 2019