Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

 

Honestidade em família

 

Jovens enamorados, promessa de um amor eterno. Encontraram-se ou quem sabe a vida proporcionou esse encontro, que nem sempre são casuais. Instante idílico era ele, Príncipe Encantado, e ela, a Bela Adormecida. Foi em um hotel na Bela Arvorezinha.

Jovem bonito, ilustre herói de Guerra, admirado na pequenina cidade. O sonho das donzelas casadouras. Ela moça mais do que bonita, filha do escrivão e muitas vezes, fazia ele o papel de Juiz, partido promissor. Olhos azuis, cabelos encaracolados e loiros. Estudara até o 5º. Ano, na cidade vizinha, para início do século passado, uma conquista para poucos e muito menos para as mulheres.

Casaram-se, depois de um namoro promissor. O tempo passa, nem tudo continua a ser o Reino Encantado. As mazelas da vida aparecem. Muitas vezes as superações são difíceis. Continuam juntos, pois um dia prometeram isso diante da sociedade, diante de Deus, em frente a um Altar.

Muitas vezes, o compromisso amoroso e ético, com os filhos faz com que se vá levando a vida. Os sonhos, nem sempre se realizam. Transformam-se apenas em sonhos de um tempo amoroso que se perdeu nas Brumas dos dias que não voltam mais.

O Senhor, um Pracinha de Guerra, sem amparo financeiro, com a saúde complicada, as sequelas de uma Guerra cruel vão se acumulando com o passar dos anos. Sem o romantismo dos primeiros tempos, da companheira escolhida, nos dias atuais só o compromisso de estarem juntos.  Só restou o desejo de formar os filhos, vê-los encaminhados na Vida. Estudarem para que os caminhos deles sejam mais fáceis.

Com sacrifício, a vida dia após dia vai se sucedendo. Os anos, um Senhor implacável faz também com que as crianças crescem e, os pais envelhecem. O sonho da aposentadoria prometida pelo Exército Brasileiro mantém o Senhor vivo, na grande paixão de torcer pelo Time do Coração. Foi a ultima ação na noite fatídica. O time ganhou, mas não pode vibrar, era proibido, o Rádio tinha que estar com o volume baixo, para não incomodar.  Era preciso escutar em pé com o ouvido colado na prateleira onde a Farroupilha transmitia o jogo. Após a vitória, sozinho foi dormir.

 O coração cansado, das desilusões, não aguentou.  Na madrugada disse:

- Chega. E, se foi. Com certeza para os encantos de uma Vida melhor, onde não se sabe muito bem o que acontece.

No dia seguinte, ainda com o corpo entre a família, foi decretada em Diário Oficial, a tão sonhada e merecida aposentadoria.

A família até então com sérias dificuldades econômicas passa a ter um pouco de conforto. A mãe está agora amparada. Os filhos, esses cada um seguiu o seu caminho. A quem sempre foi ensinado e dado o exemplo para viver com Honestidade, a partilha parece não ser preciso controlar, prestar contas. Faz parte do compromisso do clã.

Mais uma vez a Vida foi injusta ou quem sabe não, mas os viventes em questão. Como pode uma mãe, preferir um filho sobre outros?

Netos também especiais, claro e evidente filhos da filha Bem Amada, em detrimento dos outros? Todos nascem iguais em direitos. Todos são consangüíneos.

Mas acontece mesmo nas melhores famílias. O tempo vai acumulando as diferenças, as preferenciais, vão  sendo evidenciadas, as desavenças então acontecem  E, quando se percebe, cadê a aposentadoria sonhada pelo Pai para que os filhos todos tivessem a vida que ele sonhou? A viagem que seria feita, todos juntos?

A esperteza toma conta de tudo, com o aval da própria mãe, pois não se imaginava que uma irmã tire dos seus próprios irmãos.

E, a mãe até então protetora de um em detrimento de outros, se faz de esquecida deixa acontecer o roubo fantástico, festa de formatura, viagem para a Europa, afinal é preciso manter a aparência com os amigos com os compadres. O filho formado precisa de um teto, a namorada de família rica não pode passar necessidades. O apartamento em área nobre, um empréstimo com o maior dos juros,  feito por telefone. O contrato com o endereço da mãe, mas o telefone da Bem Amada. É preciso estar atenta ao que acontece.

Os filhos dos irmãos, esses fiquem sem nada. A final o dinheiro é da mãe e ela faz com ele, o que bem quiser, foi dito e reafirmado. Dinheiro foi feito para gastar. Foi preciso tomar uma atitude

Inimigos apareceram,  o poder de manipular amigos foi exercido com sabedoria. Ficaram esses do lado de quem sempre controlou tudo, não admite,  não mais ficar sem a galinha dos ovos de ouro. Mesmo com os documentos mostrados o valor do empréstimo com altos juros. Amigos se vão. Se é que foram amigos um dia.

Pobre pai sonhou, mas não realizou. O mesmo amor da juventude transformado em pesadelo passa a ser a discórdia entre os filhos. Uns honestos e a outra uma corrupta. Dizendo-se ainda ser uma cristã verdadeira.

 Oh céus,  onde está a justiça?? Como será o fim dos seus dias??

Chega numa manhã anota do Banco Empréstimo da mãe uma senhora com quase 90 anos para serem pagos em quase dez anos. Pela idade apresentada, o juro perfazia dobro do que foi emprestado. Sem assinatura, empréstimo feito por telefone.

São os Bancos a serviço de larápios nessa nossa Pátria amada. E, funcionários dizem com tranqüilidade trabalho há 30 anos e o que mais vejo é uso do cartão de aposentadoria, por um dos membros da família.

Conselhos daqui e dali. Conversas com o Frei, com o Juiz, com o Promotor. É preciso tomar uma atitude. Cancelar cartão e, abrir nova conta. Tudo precisa ser feito com o auxílio de advogados.

Engraçado para o empréstimo nada disso foi preciso. E, quem nem sabia lidar com Banco precisou aprender e ainda ouvir:

-Ela disse que estava fazendo um empréstimo pra ti, pois irias construir  e precisaria de dinheiro.

Par obter o famoso cartão foi preciso ameaçar.

 Não há que não se prende, mais ainda quando há necessidade. O que era entrar num Banco e ter a sensação que todos sabiam o que se estava fazendo, hoje se tornou natural.

Foi conseguido reverter à situação. A poupança garantida. O socorro financeiro para os irmãos quando esses precisam. A consciência tranqüila. Trabalho árduo, pois é preciso estar vigilante. Retirar os proventos de um Banco  e colocar em outro sob outro nome para garantir  que o Banco que fez o empréstimo  não os requisitará.

Ficou a lição que mesmo entre irmãos, criados do mesmo modo, com igualdade, com  os mesmos princípios éticos e morais,  a ganância e o desejo de possuir o que não é meu, fala mais alto.  A tentação é grande. É preciso estar sempre se alimentado com valores cristãos e morais para não cair nas armadilhas da perdição.

Perdem-se amigos de longa data, pois acreditaram  nas artimanhas da comadre que sabe muito bem manipular. Até pessoas muito especiais  ficaram do lado dela. O Conselheiro do grupo, sábio e profeta se omitiu, pois é preciso estar com os compadres. Eles sempre estiveram juntos desde a juventude.

O tempo fala por si. A sensação de dever cumprido com o pai e os irmãos compensam, embora a dor na Alma persista. A verdade um dia aparece e desfaz a calúnia. Mentira tem pernas curtas. Nunca se esquecer da sabedoria popular que “dize-me com quem andas, dir-te-ei quem és”.

E, ainda permanecer vigilante pedindo aos céus para não se corromper.

 

 

 
 
Publicado no Livro "Toma lá!!! Dá cá!!!" - Edição 2018 - Janeiro de 2019