Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

 

Vivendo e aprendendo... eternamente

 

 
         

Fico a maturar quando foi exatamente o momento sublime em que a humanidade começou a praticar o ato de aprender. Qual terá sido o primeiro fato? Pela lógica, teria sido a repetição de um gesto.  E, se imitaram alguém, de quem o fizeram? Pode ser de um outro animal ou quem sabe da própria natureza.  
Com certeza foi quando aquele ser, ainda um tanto desengonçado teve a consciência da sua existência. Quando ele jogou a primeira pedra ou o primeiro pedaço de pau para abater uma ave ou outro animal. Para derrubar uma fruta, devem ter aprendido com o vento. Era só chacoalhar o galho.
Fazer o fogo então, foi da observação direta da natureza, um raio, um vulcão, foi preciso conservar as brasas, ir alimentando as chamas. A mulher que com agilidade nas mãos, apreendeu atritar dois pauzinhos.
 Para os tempos atuais um fato corriqueiro, mas nos idos da humanidade uma façanha sem precedentes. Graças ao fogo é que hoje somos tanta gente e, chegamos até aqui. 
A arte de ensinar foi automática, eu faço e você repete, sem mistério nenhum. É a imitação, ainda hoje tão usada. 
Outras ações surgiram da necessidade. Era preciso descer das árvores. E, agora como fugir dos predadores. Então o andar ereto foi se fazendo. Os braços que eram bem mais compridos, como não havia mais necessidade de usá-los como era no andar quadrúpede ou no pular de galho em galho, se tornaram mais graciosos, mais curtos.  
Colher os ovos foi só observar as aves e os mamíferos que roubavam eles dos outros ninhos. Foi só colher.
E pescar então? Como pegar um peixe sem o uso do anzol? Os metais muito mais tarde, foram dominados. Quanta artimanha foi necessária ao jovem ser humano, um aprendiz para tudo.
Caçar já foi mais fácil, seguindo o meu raciocínio.  Atirar uma pedra. Fazer uma armadilha. Um buraco no chão e tapar com galhos ou gramíneas. E, o animal, desavisado caía no buraco.
Não foi nada fácil essa aprendizagem. Mas a inteligência já estava instalada, desde o primeiro instante.
Assim foi a humanidade progredindo. Do morar nas árvores, passar para as cavernas, mais conforto diante da chuva, do frio, do vento forte.
Mas, os outros habitantes  disputavam o mesmo lugar. A fogueira na entrada para afastar as feras. Por isso até hoje não gostamos de dar as costas para qualquer entrada, sejam elas em qualquer espaço.
O dormir, até que a rede foi inventada, quanto chão duro. O recurso era amontoar as folhas e ajeitar o corpo cansado.
O tomar banho deve ter sido mais fácil. Depois de uma chuva a sensação de bem-estar. Então era só aproveitar os riachos todos de águas límpidas. 
Assim levaram milhares de anos aprendendo, ensinando e andando de um lado para o outro.
Até que a inteligência feminina muito observadora e perspicaz, disse:
- Vamos lançar a semente na terra e teremos as mesmas plantas. Nasceu a agricultura. Não foi mais preciso sair sempre em busca de outro espaço a procura de alimentos. 
O cachorro, a partir do lobo selvagem, já estava domesticado servia para a defesa e para caçar. Quando o cavalo foi domesticado, que alívio, agora tinha quem transportasse cargas e pessoas. 
O trigo, o arroz, o centeio começou a ser cultivado e, a vida foi melhorando. Aqui na América, a terra produziu o milho, um alimento nutritivo. A mandioca, conhecida há mais de 6 mil anos, só conhecida nas outras partes da Terra depois dos Grandes Descobrimentos. 
Para saber se uma fruta era venenosa ou não era só observar outros  animais, se eles comiam e, se nada acontecesse, então os homens também podiam se alimentar. 
E, os remédios? A mulher com sua habilidade e carinho maternal, fazia os chás, os emplastos de barro, podia curar as dores humanas. 
E, assim foi o gênero humano, sobrevivendo e evoluindo. Parece que tudo já foi descoberto o inventado. Porém estamos sempre aprendendo uma coisa nova. Inventado alguma coisa. Essa curiosidade e desejo de algo novo faz parte da essência de quem é a imagem e semelhança do Criador.
E, ensinar se fez um ato de Amor. 
Como murmurou aquele moribundo, que puseram um tição na sua mão, por não terem uma vela:
Morrendo e aprendendo!


 




Conto publicado no livro "Vivendo e aprendendo " - Contos selecionados
Edição Especial - Dezembro de 2020

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