José Anilto dos Anjos
Ribeirão Pires / SP

 

 

Meu boi babão

 

Ah, meu boi, como é triste tua sorte
Atado à canga, não tens saída
Serves ao homem antes da morte
Cede-lhes o corpo depois da vida

Tenho pena de tua sina amarga
Puxando o arado rasgas o chão
No carro de boi arrastas a carga
E movendo a mó, trituras o grão

Morto, teu corpo é todo usado
Carnes, chifres, ossos, sebo, couro
Nada fica para ser sepultado
Tudo tem valor, como um tesouro

Entendo agora o som lamentoso
Que produz o berrante ao tocar
E o rangido do carro de boi
Espalhando tristeza ao rodar

Servo em vida por natureza
Usado na morte por inteiro
Por ter visto teu olhar de tristeza
Não quero mais ser boiadeiro

 

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Versos achados numa noite perdida" - Abril de 2019