Romilton Batista de Oliveira
São Paulo / SP

 

 

Prisões pós-modernas

 

Quem somos só somos por meio de ideias
E por elas nos apresentamos e nelas nos enclausuramos
Construímos pontes ideológico-discursivas
E separamo-nos por pequenos viadutos ideológicos
Tornamo-nos “gigantes” e realizamos nossos sonhos…
E de repente novamente surge novos planos
E novamente outras ideias nos dominam
Torturando-nos numa “cela separatista”
Onde só cabem os que pensam como nós…
Tornamo-nos num “líquido tempo” seres humanos e desumanos
Leões, leopardos, búfalos, crocodilos, cavalos, cobras…
Marcamos nosso limite e nosso territorial canto
Como um cão marca violenta e instintivamente seu território…
Somos presas de nossas próprias ideias
E por meio delas anulamos o outro
Criamos “muros”, senzalas, porões pós-modernos…
Casas herméticas: fábricas da medíocre modernidade,
E numa eterna repetição acreditamos
Que o novo virá e o conhecimento encontrará o grande rio que nunca dorme…
O rio das incertezas finalmente encontrará o oceano mnemônico da razão…
Por tão pouco matamos dentro de nós mesmos a humanidade doada por Deus…
De repente, numa rápida constatação, descobrimos que estamos perdidos…
Envoltos no mesmo desejo que o outro também sente…
Mas ninguém tem coragem de desprender-se de si
E agarrar-se no signo do outro que quem sabe
Diz o que sabe sobre o que sabe ou diz o que nada sabe sobre o que sabe!!!
Pois o outro também está preso em seu casulo ideológico…


(Homenagem à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – FLU
L)

 

 

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Versos achados numa noite perdida" - Abril de 2019