Samuel Alencar da Silva
Capanema / PA

 

 

Canta, canta, pobre quebradeira

 

 

Eu queria ser tu sendo eu!
Ter a tua inocente alegria
E a minha parca consciência,
Queria ter a tua doce euforia
E a certeza de que não há motivo festivo.
Eu, que há muito tempo,
Desde minha pobre infância
Presenciei essa ingênua cantoria.
Desde que minha saudosa mãe
Fazia parte desse elenco simplório
Eu já observava com certa melancolia.
As operárias cantam uma maviosa música
Para espantar as agruras da vida
Num ambiente inóspito de faina bruta
Onde evaporam suores de seus corpos
Provocado pelo calor da castanha quente cozida.
O cansaço não as esmoreciam, tampouco as tolhiam
Repetindo-se a jornada todos os dias,
Jornada que iniciava antes de amanhecer o dia,
O canto ameniza a dor e volatiliza o sofrimento
O trabalho é digno, a vida é a arte do trabalho
Canta, canta, canta pobre operária!
Enfrentando tua repetida labuta
O trabalho é a vida e não há vitória sem luta.

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Versos Brasileiros" - Fevereiro de 2018