André Luiz de Oliveira Pinheiro
Rio de Janeiro / RJ

 

 

Não pensem em mim

 

 

Não pensem em mim, não pensem...
Não sou ninguém, apenas um momento
Que passa ao léu em falso pensamento...
Não pensem em mim, nem tentem
Porque num véu se esconde todo ser...
Não pensem em mim, sou água
Que escrevo pelos dedos, evapora
E vira nuvens, pelo céu demora...
Não pensem em mim, sou mágoa
Que tenta pela chuva esquecer...
Não pensem em mim, sou chama
Do fogo que não quer se apagar
Aquelas labaredas sem queimar...
Não pensem em mim, sou drama
Perdendo o direito de viver...
Não pensem em mim, sou terra
O chão que não se cultivou ainda
Arado pela solidão Benvinda...
Não pensem em mim... Pondera!
Nem faço primavera pra você...
Não pensem em mim, sou aço
Eu me disfarço, às vezes, de silício
Desagregado venço meus cilícios...
Não pensem em mim, no espaço
Do tempo que me faz amanhecer...
Não pensem em mim, madeira
Madeira, quando sou, eu sou um lenho
Achado, do desmatamento venho...
Não pensem em mim, fogueira
Carvão ou violino posso ser...
Não pensem em mim, sou ar
Me torno vento ou asfixio alguém,
Mas quero sempre me tornar um bem...
Não pensem em mim, voar...!
Eu me levo em perfume até vocês...

 

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Versos Brasileiros" - Fevereiro de 2018