Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

Filosofia do deserto

 

 

O mundo, o joio, o trigo, o distante
O santo, o profano, o engano, o abandono
E no meio um lugar inabitável, entre-lugar dos errantes,
Desgarrados de raízes, desertados de sua pátria
Apatriados em terras estranhas, desérticas...
Onde a alma chora por não sentir o mover do tempo...
E assim nos tornamos seres sem cor, sem data
Seres enlatados, abjetos da modernidade doentia
Escravizadora, homocêntrica e brancocêntrica…
Os covardes jamais habitarão esses desertos
Que somente é habitado por homens e mulheres
Que desempoderados e desarmados pela Filosofia do Deserto
Entregam-se à poesia do não-ser, do não-ter, do não-não
Formando um grande desencontro onde nem fim nem início existem
Apenas o deserto, o implacável deserto da razão
A reinar sem ditadura, governo ou sistema humanitário
República ou qualquer espécie de democracia demoniacrática...
Nesse deserto de poesia vive-se para viver
A morte não tem entrada, nem seus medos cartesianistas
Nem suas forjadas dores, nem suas ideologias pagãs…
O espaço vazio e desértico será a palavra de ordem
Para quem quer viver fora do humano
E habitar o deserto mundo incolor
Insípido, inodoro, indivisível e visível
Por sombras de fantasmas que nunca desistiram
De seus potentes entre-lugares
Mágico rio que deserta a alma aprisionada
Por discursos, signos e representações...

(Homenagem aos amigos Brás e Moisés!)

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Versos Brasileiros" - Fevereiro de 2018