José Faria Nunes
Caçu / GO

O voo do poeta

Desde criança trago impregnado na alma
o peso carregado da melanina
de minha ascendência afro.

Desde ainda nascituro,
no âmago das entranhas maternas,
acompanha-me a sentença
do vir a ser desprovido
das benesses da moeda
valorativa do ter.

A social indiferença sojigou o poeta
à submissão voraz da mais valia
sangria de sonhos, morte da esperança.

Meu poema é carne exposta de meu corpo.
É sangue no rasgo dos sonhos abortados.
A esperança implodiu-se no apagar das luzes
no final do túnel do infortúnio do poeta.

Resta ao poeta um novo versejar
um novo colorir de seu poema
sem mais rimar amor e dor.

Possa o poeta vestir-se
das asas da poesia
e ascender em voo etéreo
ao paraíso dos pássaros.