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Rozelene Furtado de Lima
Teresópolis / RJ

 

A lingerie da noite de núpcias

 

Clarinha tinha paixão por lingeries, sempre teve, desde sempre. Para ela estar bem vestida tinha que ter um belo lingerie por baixo. Ela comprava de todas as cores, formatos e desenhos. E todos sabiam dessa atração dela por peças íntimas. Adquiria todos os lançamentos das marcas preferidas. E uma situação que ela não abria mão era vestir-se bem para dormir.
Certa vez um amigo gravou um CD só de aplausos e deu de presente para ela ouvir quando colocasse um lingerie especial, pois era solteira e desfilava para ela mesma. Aquele fascínio por peças íntimas estava ficando sério, todos sabiam, mas ninguém ainda tinha visto Clarinha desfilar de lingerie.
Encontrou numa festa um rapaz, namoraram e veio aquele amor louco com sintomas de para toda a vida e resolveram casar-se.
Tantos preparativos que exige uma festa de casamento, detalhes e mais detalhes. O local da recepção, convites, igreja, flores, lista de convidados, viagem de núpcias, compras e mais compras e sem falar na decoração do apartamento que iriam morar. E lista de afazeres para todos os dias e no final do dia conferir o que ficou faltando, e etc... E etc...
O vestido da noiva era belíssimo cheio de pormenores. Clarinha não conseguia resolver qual lingerie usar na noite de núpcias. Escolhia e escolhia. Difícil de decidir qual modelito, a cor, longa ou curta, com que tipo de minudências... Até desfile de lingerie ela foi para ter uma ideia do que comprar para ocasião tão especial. Era a celebração de um sonho, tinha que ser um lingerie magnífico, divino, maravilhoso, que completasse o dia mais importante da sua vida. Acabou decidindo! Segredo total. Arrumou a mala de viagem e o lingerie que usaria na noite de núpcias foi a primeira peça acomodada no fundo da mala, depois as outras roupas compradas especialmente para viagem..
Quando ela entrou na igreja, como toda noiva, estava linda! Todavia os amigos ficaram imaginando que tipo de lingerie ela estaria usando por baixo do belíssimo vestido de noiva. Bem feito! Quem mandou espalhar seu apreço por esse tipo de roupa!
Acabada a festa, fotografias, cumprimentos e tudo mais. Troca de roupa e... Aeroporto. Viagem longa, o casal chegou no dia seguinte a um país Europeu, o mais cobiçado por todos os nubentes para essa ocasião. Reservaram um hotel cinco estrelas. Aproxima-se a hora de desfilar a selecionadíssima peça de lingerie escolhida a dedos para momento tão importante da vida de Clarinha e o mais incrível, tinha um espectador para aplaudir.
Quando abriu a mala com seus pertences... Surpresa... Espanto... Grito abafado... Quem teria feito isso com ela? Que brincadeira de mau gosto! E por quê? Teve vontade de chorar, quase se desesperou. Situação inacreditável! A mala estava repleta de jornais amassados, não tinha mais nada além dos jornais amassados, mas muitos jornais amassados, muito mesmo!
O tempo era curto, o amado aguardava ansioso pela aparição dela, como o combinado. Ninguém vai tirar a minha alegria num momento tão esperado, pensava Clarinha.
A criatividade é a madrasta da decepção.
Abriu a mala do recém-marido, pegou uma cuecão branco e uma camiseta branca encontrou uma tesoura e transformou as duas peças em franjas, nós, furos e tiras. Desfilou elegantemente para o apaixonado e querido e agora marido, como se estivesse vestindo o mais belo lingerie.

 

   
Publicado no livro "Xeque-mate" - Contos selecionados - Edição Especial - Novembro de 2014