Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

 

Um abraço: que delícia!!!




- Noninha, a professora pediu um escrito sobre o “abraço”. Eu não sei fazer. Você me ajuda.
Abracei a menininha.
- Olhe como é fácil. O que você sentiu?
- Fiquei feliz!  É, mas escrever é que é difícil.
- Então vamos lá. 
Abraçar está na essência do povo brasileiro. O encontro, o abraço carinhoso que transmite calor humano capaz de enxugar as lágrimas, de esquecer até uma afronta, um desrespeito que doeu muito.
Esse gesto tão carinhoso - agora proibido - parece que está nos sufocando, comprimido, esperando ansioso para se manifestar afetuosamente. 
O abraço no aeroporto quando se busca o filho amado que volta de um intercâmbio. Quanta saudade nesse momento se evapora pelos ares.
Quando o recém-nascido é colocado nos braços do pai. Que alegria nesses fortes e acolhedores abraços do pai. É um momento que só quem o vive consegue entender toda dimensão.
Ao chegar na escola, encontrar as amigas. Aquele abraço, afetuoso. E depois das férias então... A saudade se manifesta no abraço envolvente. Chegam a ser umas quantas amigas abraçadas ao mesmo tempo.
- Um dia, Nona, nós corremos e nos abraçamos e começamos a rodopiar que caímos no chão. A gente riu muito. Ainda bem que ninguém se machucou.
 Abraçar é uma das características nossa, do povo brasileiro. Os estrangeiros sempre comentam dessa afetuosidade. Os intercambiários que vêm para o Brasil, também dizem:
- Como vocês gostam de abraçar!
Mas, agora com essa pandemia... Além de estarmos sofrendo com a reclusão, o abraço, o aperto de mão está nos sendo negado. É muito difícil, faz uma falta danada. Parece que o calor humano, esfriou, até congelou.
Fico pensando quando foi o primeiro abraço entre aqueles seres ainda desengonçados moradores de cima das árvores.
Deve ter sido logo depois do primeiro momento de consciência: quem sou eu? Quando jogaram aquele pedaço de osso ou quem sabe um pedaço de pau. Ou antes ainda. Como sabemos pouco da nossa própria evolução. Ficamos só imaginando.
Quando eles começaram a enxergar os animais, que eram muitos naqueles tempos, tão distantes de nós, se abraçarem. Começaram a fazer o mesmo. Se até os animais ferozes se abraçam quanto mais o homem, um ser de muita ternura. É uma necessidade de sobrevivência. 
Como eles, os animais vieram na escala da Vida, antes do bicho–Homem, este com certeza observando-os e vendo que eles ficavam felizes resolveu imitá-los. E, como gostou do carinho recebido e também do prazer que sente aquele que abraça, o hábito se incorporou no Imaginário Humano. E, assim ficaram muito mais humanos.
Pois somos um ser que gosta e precisa estar junto de alguém. 
- Credo, Nona! Mas tem gente que mata por qualquer coisa. São bandidos perigosos. Nem gostam dos outros.
- Tem sim. Mas com certeza quando ainda eram crianças, antes da maldade entrar neles, quantos abraços receberam de suas mães, de seus irmãos e amigos? Talvez muito pouco, faltou a ternura do abraçar. 
E, quantos abraços, eles não distribuíram também?... Na escola, com os colegas, com a professora. Se tivessem continuado recebendo abraços quem sabe não se transformassem em maldosos. Pois um abraço cura as feridas do corpo e da alma.
O abraço cura o estresse, abaixa a pressão arterial. Cura dor de cabeça. E faz as pessoas se sentirem felizes.
- Nossa Nona, você parece que estudou medicina?
- Não. É a vivência que ensina a gente.
Já li uma vez que tem uma Lenda esquimó que conta a história de dois irmãos. Ele queria estar sempre junto dela. Não dava nenhuma paz. A Irmã para ter um pouco de liberdade, se transformou na Lua e, ele, para segui-la, no Sol.
Quando há eclipses, é porque a saudade um do outro, fazem eles se aproximarem e, os levam a se abraçarem. Dependendo da intensidade do abraço é que se dá o eclipse total ou parcial.
Outro fato concreto, o Interact Pato Branco-Sul fez várias vezes o Projeto do Abraço. Ir na Praça Presidente Vargas e dar um abraço nas pessoas que passam. 
Pedir licença, pois é um estranho, falar do Projeto. E, ainda distribuíam um doce. 
Muito poucos foram os que recusaram a serem abraçados.
A maioria abraçava com carinho e manifestava a alegria daquele abraço.
Outro projeto, foi de visitar o asilo e abraçar os velhinhos, uma satisfação, deixou-os realizados. Foi o encontro dos adolescentes, com os que já estão no crepúsculo da vida. Eles contavam com emoção, a reação dos idosos e os olhos brilhavam. 
Quem não gosta de abraçar, diz a psicologia é porque não recebeu abraços quando era criança. Quanto mais abraçamos, mais felizes somos. 
Li dias atrás, também que o gostar de abraçar uma árvore, é uma terapia. Tem muitas doenças que são até curadas. O toque na árvore traz efeitos positivos no sistema biológico dos seres humanos. A árvore é um ser vivo. Ela que nos fornece o oxigênio para podermos sobreviver.
- Nona o que é toque??
- Quando eu te abraço estou te tocando. Quando ajudo a vestir o casaco também. Estou sentindo você. O calor do teu corpo.
- Ah, então quando a gente brinca de pega-pega também é isso... faz bem para todos os que estão na brincadeira. Acho que chega Nona, se não a professora vai dizer. . .
- Quem te ajudou a fazer esse tema?
 - Mas gostei do que você disse, Nona. Obrigada por me ajudar. Aprendi muito sobe o poder de um abraço! 

 

 

 


 




Conto publicado no livro "Aquele abraço" - Contos selecionados
Edição Especial - Outubro de 2020

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