Maria Rita de Miranda Recife / PE     Deixe-me     Deixe-me chorar lágrimas de amargura quando um passante maltrapilho carrega a bagagem do abandono. Deixe-me emocionar quando as catástrofes naturais atingem os menos favorecidos tirando-lhes o que ainda restava. Deixe-me revoltar quando um país desabriga os seus que saem em procissão a procura de migalhas. Deixe-me esbravejar quando crianças são maltratadas morrem a matéria e o espírito para sempre ficam marcadas. Deixe-me ficar irada ao ouvir nos noticiários que colarinhos brancos estão sendo perdoados. Deixe-me na incredulidade quando as drogas devastam pessoas filhos e pais se confrontam deixando rastros de crueldade. Deixe-me ficar desolado quando a violência e a guerra ceifam vidas inocentes destruindo sonhos e ideais. Deixe-me, pelo menos, indignar-me pela minha incapacidade de ordenar situações que fazem o justo chorar.

Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros - vol. 204 Março de 2022

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