Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

 

Pets

     

           Tivemos alguns pets extraordinários. Lembranças e também lambanças!
           Moleque e Tatu ficavam silenciosos, junto à grade do portão, à espreita, certamente. Quando alguém passava na calçada, eles se lamentavam e avançavam  latindo. O susto era inevitável, assim como um impropério.
           O Problema comia meus vestidos. Arrancava-os do varal, mordia-os e rasgava-os. Depois deitava-se sobre eles. Que lambança!
           Até que me aborreci e ele foi levado para o sítio de um amigo e ficou muito feliz por lá.
           O primeiro cão que nós tivemos chamava-se Tupã. Era completamente antissocial, mas muito dócil com um senhor, que até o carregava no colo. Vai entender o porquê.
           Outros pets fizeram parte da nossa família, como o nosso inesquecível Rusth. Uma amiga no-lo deu porque a sua cachorra de raça se apaixonou por um cãozinho plebeu. Ela era “policial” e ele era “basset”.
           Então Rusth saiu com as pernas curtas e corpo comprido como o pai, peludo como a mãe. Lindo! Era muito inteligente e arisco. Só bebia água na torneira do quintal. Quando estava com sede, alguém tinha que abri-la, pois Rusth latia até que alguém o atendesse. Subia no muro do vizinho, equilibrava-se e pulava para a nossa casa.
           Era muito namorador, bastante conhecido e amado. De vez em quando desaparecia. Ele ia bem longe, mas sempre tínhamos notícias. “Rusth está lá no bairro tal”. Não precisava buscá-lo; ele voltava quando queria.
           Tinha uma peculiaridade: ficava esperando o seu dono vir para casa, e latia contente, avisando da sua chegada.
           Em um domingo de carnaval, Rusth o acompanhou e atravessou a rua, meio descuidado. Um ônibus pôs fim à sua vida que já era bem longa.
           Foi uma perda para todos da nossa família e para aqueles que o conheciam.
           Viveu bem, foi feliz e não ficou doente. Subiu para o céu dos pets rapidamente. Na certa, quando acordou do outro lado, continuou realizando suas traquinagens.
           Muitas outras histórias de nossos outros pets serão contadas em outra oportunidade.
           Companheiros fiéis merecem ser lembrados com carinho; nunca serão esquecidos.

 


 




Conto publicado no livro: "Casos de amor (e lambanças)"- Edição 2021
Janeiro de 2022

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