Néri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR
A calúnia
Taciana, uma menina alegre, sempre à disposição de quem dela necessitasse. Não sabia dizer NÃO.
Ajudava em casa, nos afazeres domésticos. Ajudava na Escola. Emprestava a tarefa pronta, ensinado os alunos que não conseguissem resolvê-la. Se prontificava a ficar com uma criança, para que a mãe pudesse sair, fazer uma visita a uma comadre. Isso nos idos dos anos 50, tempo que não havia creche.
Cresceu como uma menina que sabia trabalhar, desenvolveu muitas prendas. Até nos afazeres domésticos em sua casa ajudava na gratuidade duas senhoras bem-apessoadas nos seus trabalhos.
Assim a menina se tornou-se moça prendada, bordava, tricoteava, fazia crochê. Cuidava do irmão menor. Só não era muito dada nas artes culinárias. Talvez, porque a sua mãe não deixava chegarem perto do fogão. Dizia ela:
- Vocês só fazem lambança.
Em uma época, em que a água era tirada do poço, esse movido à manivela, trazida com um balde, antes de ir para a escola deixava o tanque de lavar roupa, sempre cheio de água limpa e as outras vasilhas.
A irmã menor, tinha a obrigação de deixar a água tirada na cozinha. Mas preferia pegar da água já tirada. E, claro as duas irmãs brigavam. A mãe sempre em defesa da menor. Dizia:
- Você é a mais velha.
E, ainda sempre falava em prol da filha predileta:
- Tem os olhos azuis do papai e os cabelos loiros como os meus.
Taciana mesmo magoada ignorava essa preferência materna. Como todas as meninas do seu tempo, dedicava-se também aos trabalhos religiosos. Desde menininha servia na igreja, fazendo o papel de Anjinho, nas procissões, nas coroações de Nossa Senhora, nas primeiras Comunhões.
Pertencia a Cruzadinha Eucarística, cuja função maior era a de rezar o terço, uma devoção diária. Foi um movimento educativo católico internacional, nascido em 1915.
Foi catequista. Visitava os pobres, junto com a Irmã Maria José do Colégio.
Não era muito dada aos matinês, por ser muito pobre e quase sempre usando sapato que já estava furado. Também não tinha roupa adequada para sair com as amigas.
Nas Santa Missa ficava sempre no final da Nave da Igreja, para que ao ajoelhar-se não aparecesse o sapato já muito usado.
Assim, cresceu a Taciana prestativa. Cursou a Escola Normal. Muito estudiosa, já ia para as aulas de História e de Geografia principalmente com o conteúdo na ponta da língua, como se diz. Lia todo o livro que lhe caísse nas mãos. Formada professora, sempre lecionou em mais de um turno. Prestou serviços como Educadora por 48 anos e 6 meses.
Sempre excelente em matemática. Teve dificuldade em Português. Casou-se, teve filhos. Uma vida com muitas dificuldades.
Sempre gostou de escrever. Mas por erro de alfabetização trocava o P com o B. O M com o N. O T com o D.
As suas produções literáriasde iniciante eram lidas como também as dos demais alunos pela Professora, com os erros ressaltados. Isso inibiu por bom tempo, a Taciana que queria ser escritora.
Mais tarde entendeu o problema e hoje escreve. Já recebeu várias premiações literárias.
Na Igreja trabalhava nos Encontros de Noivo. Um sábado por mês. E, ainda, as reuniões preparatórias. Esse trabalho exercido por mais de 25 anos. De vez enquanto, o Frei que coordenava os encontros, ligava para ela, que havia um casal de Noivos que queriam tirar umas dúvidas. Prestativa conversava com eles.
Em outra Paróquia, trabalhou nos encontros de Batismo, proferiu muitas palestras. Dominava a História da Bíblia com suas personagens de maneira salutar. Sempre gostou de história. E, no tempo da Escola Primária, em Santa Catarina, tinha aula da Sagrada Escritura, todo o dia.
Exerceu esse trabalho por mais de 20 anos. Também, com palestras mensais. Chegava no Pavilhão da igreja às 20 horas de pois de ter feito os exercícios terapêuticos e saía de lá às 22 e 30. Sem jantar, sem tomar banho. Em casa, o marido cuidava dos filhos. O casal sempre viveu em harmonia doméstica.
Fez o Cursilho da Cristandade para levar o Marido a exercer trabalhos religiosos. Não ficou por muito tempo, pois achou que era sempre os mesmos a exercerem as atividades. Convidada pelo Pároco, fez o Curso para ser Ministra da Eucaristia. Foram mais de 2 anos de preparação. Muito estudo bíblico e das Leis da Igreja e suas Encíclicas.
Exerceu esse serviço por 26 anos. Além da distribuição da Santa Eucaristia, a responsabilidade Cristã de ser o mais possível autêntica, nas funções diárias de profissional, dona de casa, e ainda mãe e esposa, com as pregações religiosas que realizava. Também era solicitada nos Cultos na Matriz e nas Capelas. E, pela facilidade de conhecimento e de falar em público, por ser professora, sempre era a encarregada da Homilia.
Como professora, fez pós-Graduação em Pedagogia Religiosa para se aperfeiçoar. Por 12 anos coordenou e lecionou Educação Religiosa. Eram essas aulas, ecumênicas.
Veio a Pandemia. Mais de 2 anos de reclusão.
Na volta dos Serviços, na Igreja, era preciso se apresentar ao Ilustre Pároco. Diz ele:
- Não! Você não vai mais exercer esse serviço, pois não faz nada na Igreja.
Assim, a senhora Taciana, foi ultrajada nos seus direitos de paroquiana, na sua dignidade de Cristã e, caluniada. Nessa Paróquia a sua família paga o Dizimo.
Cabe agora, ao Senhor da Messe, prover o que será o seu futuro Religioso. Ele, sabe do seu trabalho feito com Amor, e com compromisso.
Ciúmes, inveja, desdém por sempre defender o Franciscanismo?
Ela é Professa da Ordem Terceira de São Francisco e a ele consagrada.
Aconteceu com a Taciana, o que há muito tempo, deixou escrito o sábio padre Antônio Vieira:
- “Sabeis porque vos querem mal vossos inimigos? Ordinariamente porque vêm em vós algum bem que eles quiseram ter e lhes falta. A quem não tem bens, ninguém lhe quer mal. “
O Futuro a Deus pertence. A Taciana com sua Fé, reza e pede a Deus que no tempo hábil, resolva sua situação.
É só esperar, ter paciência e colher os frutos.
Nessa vida, há muitas histórias semelhantes a de Taciana.
Regulamentos