Carlos Alberto Drago
Anápolis / GO

 

 

O eco pouco generoso



        

       

Os garotos já estavam cientes de que o primo tinha um probleminha de dicção. Era fanho, tadinho...
- Ele é gago, né mãe?
- Não, filho, ele é fanho.
- Ih, mãe, fanho é foda... os moleques da rua vão sacanear ele...
- Vão não, é só brincar com ele por aqui, nada de rua... sem gurizada por perto.
- Já sei! Vamos levar ele na caverna do Boi Babão pra ele ouvir aquele eco altão que tem lá... ele vai gostar, né?
...
Dia seguinte, na entrada da caverna:
- Presta atenção pra você ouvir o eco mais alto do mundo! É o maior show aqui da cidade. Eu vou gritar meu nome e o eco vai responder, escuta só: “Rai mun do !!!...”
E o eco, com aquela tradicional elegância sonora responde lá do fundo: “Raiii-munnnn-doooo”.
Aí foi a vez do Zeca, também querendo se mostrar. Agora sou eu: “Ze ca !!!...”
E o eco, mais uma vez respondeu certinho: “Zeeee-caaaaa”.
O fanho – que por sinal se chamava Cícero - ficou entusiasmado com o tal eco, nunca tinha visto nada igual e resolveu experimentar. Respirou fundo e gritou seu nome, com aquele jeitão bem buzinante saído do fundo do peito: “I-ê-ôôôô!”
E o eco: “O quê-ê-ê-ê??????”

 

 


 




Conto publicado no livro "Contos Selecionados"
Edição Especial - Julho de 2021

Visitei a Antologia on line da CBJE e estou recomendando a você.
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