Maria Rita de Oliveira Martins
Pontes e Lacerda / MT

 

 

Preta, mas até quando?

“Preta sou!”
Disse, e o coração de vovó retumbou.
“Preta, não sou!” Ela trovejou.

Mas sua pele era retinta.
Sempre a vi desfilar brilhante desde a infância.
Talvez fora apenas tinta?
Mesmo assim não contive minha ânsia.

Minha vó, preta era como o carvão dessa terra. Meu avô, preto não era alvo como as nuvens da atmosfera.

Um dia minha bisa no laço foi pega mesmo assim, foi uma pessoa meiga. Talvez não tenha conhecido o amor, mas sorriu mesmo em pura dor.

Uma vez disseram: “Pretos não podem ser!” E assim chamaram Alvaros para nos embranquecer.
Agora, parda sou.
Mesmo assim, a bala o meu peito atravessou.

 






Poema publicado no Livro "De corpo & alma"
Maio de 2022

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