Neide Teno
Dourados / GO

 

 

Netos - presente de Deus

 


A partir da ocasião em que as palavras ganham a condição de buscar na essência o que é real e o que é não real chegamos nos valores consagrados. É preciso ir mais longe, romper as mazelas das tristezas e embalar nas descobertas dos cronistas.
Uma crônica mesmo que poética ela é dotada de linguagem cifrada, que só um leitor astuto será capaz de entender as colocações metafóricas, à carga semântica que as palavras carregam. Faço a vez de um cronista para olhar para essência e a beleza escondida por trás da inocência, do universo infantil dos netos, no olhar e na delicadeza de um menino de três anos, de uma neta de doze anos entre outro de vinte e três anos.
São eles, os netos, que nos ensinam como embelezar momentos depressivos, são eles a filosófica na construção de uma família. Aproximo e ele, o neto adulto, não percebe que mesmo quando
crescem as histórias da infância acompanham as relações afetuosas dos avós. Por isso, ele não deixa de existir, mas fica distante dos melhores momentos que marcam a família.
Na meiguice do seu olhar encontro com uma neta adolescente, estudiosa grandemente faz desafios. Uma neta que transcende valores, que está além das tecnologias, da matemática, do companheirismo e do cuidado na manutenção da família. Meu olhar é de testemunho e de inspiração, pois ao olhar para Juliana me vejo conectada na capacidade de apreender, do vencer sempre, uma moca representada na renovação da contemporaneidade.
As narrativas de Juliana trazem um combustível e valorização para uma liberdade de caminhar para seus próprios projetos de vida.
Volto para os momentos de ser avó de um neto de três anos e pela peculiaridade de morar próximo aos avos, o Allexandre faz parte de uma convivência maior. Por isso, essa relação foi maior, não menos importante que os demais netos. Fala sozinho, conta
história, repete jargões. Viaja entre os santinhos e os demais brinquedos, mas a conversa é muito especial. Uma conversa com os santos, muitos santos. Santo Antônio, Santo Expedito, Santa Imaculada.
Uma relação de fatos da vida com personagens bíblicas é visivelmente apreciada num diálogo completo. "Vou cuidar de você Santo Antônio. Vou tirar você da caverna, Jesus
Misericordioso, Ohhh nossa senhora já cheguei, não se preocupe." Vou rezar para você,Carol. Minha presença não intimida a viagem interior infinitamente grande.
- Vovó Estou brincando com os santinhos, Senta Vovó, cuida do São José.
Um cronista pode contar os fatos, mas não consegue conferir à narrativa um ambiente atemporal, de tal maneira que deixa o leitor envolvido no infinito das palavras vivenciadas nas histórias de um neto. Um menino de três anos que busca na sua inocência o significado das coisas da vida. Um passarinho que cai do telhado serve como paciente para uma criança se mostrar a resignação do coração.
- Vamos buscar a maleta do médico para cuidar de você passarinho.
- Vamos colocar numa caixinha, dar agua, medicar o passarinho!!
- Não precisa se preocupar vovó, eu cuido do passarinho.
De repente prefere o tablete. Nele há vários encontros: com o Pocoio, turma do Chaves, seu Madruga, Quico, Chiquinha, Dona Florinda, turma da Mônica, os cabeçudos, e os cantos religiosos, o que vem revelar um conhecimento atemporal mas perpetual. Faço como Cecilia Meireles (1953), vou sendo envolvida na captação da paisagem a partir do meu olhar atento para um salto aqui outro ali, um grito cá, outro lá, um olhar atento, muitos risos, um brinquedo que quebra, um santo que perde a cabeça, e o silencio vai sendo quebrado.
São as pontes aéreas feitas entre o passado e o presente. São as representatividades do ensinar para vida. Um ovo mexido, um miojo na panela, um juntar dos brinquedos, são conhecimentos e curiosidades necessárias para um neto de três anos. Abro para uma metáfora dos mistérios, os mistérios entre avó e o neto. Mistério da cumplicidade, do amparo, da aprovação das artes, da quebra de contratos. Enfim, os netos chegam para equilibrar todas as lacunas trazidas pela velhice, chegam para ocupar os espaços vazios e nostálgico da aposentadoria. Aliás, desconfio muito de que netos são melhores companhias para boas gargalhadas.






"Crônicas da cidade"
Fevereiro de 2023

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