Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR





Uma cidade especial

 

Quem diria... uma vilazinha ao longo de um rio com um nome para lá de especial, seria eternizada pelos feitos dos que por aqui passaram.
Não sei se há outra, mas penso que não. Lá nos confins do Brasil, avizinhando-se com a Argentina, eterna rival, em qualquer situação, mais ainda num campo de futebol. Não muito longe do Uruguai, país que com orgulho está no término do chão brasileiro. E, ainda quase fronteiriça com o Paraguai, país de tantas glórias e adversidades. 
Esse lugarejo que serviu de refúgio a muitos fugitivos do próprio país e também de países fronteiriços, se chamou por coincidência ou não de “Bom Retiro”, nos seus primórdios de formação citadina. 
Foi crescendo de maneira garbosa com um nome para lá de peculiar. Nome esse dado por um Rio. Rio que não corta o sítio urbano, apenas faz divisa com o município Mãe.Tem ele, também um nome especial. 
Nascido do sonhar de um caboclo trabalhador que pensou em recolher o seu feijão para não molhar antes que o aguaceiro despencasse.
E, ainda alguns com desconhecimento de causa dizem por alguns lugares: 
- O que os caboclos fizeram? Até deram o nome a essa cidade com encantos e muitas histórias.
Foi assim, como num piscar de olhos, ela passou de lugarejo, há uma Villa promissora. Uma estrada poeirenta, serpenteando um rio, não lá muito rio, era pequenino, pois suas poucas águas, mesmo em tempos idos, sustentaram as serrarias, as quais que de forma faminta com veracidade, acabaram com a sua majestade, o pinheiro. 
Nasceu ela ou melhor foi nascendo de forma pitoresca, sem muitos entraves, um longo surgimento, mas que para uma cidade, foi de um tempo breve. Sem tempo de muito pensar, de muito ficar planejando, e sim ir logo atuando.
Essa cidade prodigiosa, nasceu alfabetizada e, ainda em letras bilíngues. A riqueza aqui presente trouxe os vizinhos, pois não havia demarcações e nem cercas, era só ir adentrando pela mata e, ir podando as ervateiras. 
Mas a professora não podia faltar. Esse chão, já com indícios de que seria um grande Arraial. Nasceu com predisposição Universitária. Lecionar há quase 100 anos atrás, uma vocação nata, que principiou com a humanidade. É preciso ensinar. E, essas aulas, além dos desbravadores, os filhos dos ilustres caboclos. Criança alfabetizada, sem que sua origem, sirva de pretexto. Sendo criança, precisa apreender a ler e escrever. Somar e diminuir. Interagir.
 Assim, ela a cidade que com nome de uma ave, hoje se orgulha de suas Instituições de Ensino. Junto com a Escola, a Saúde foi e é prioritária. 
Seus primeiros curandeiros, tinham a sabedoria milenar de como usar os remédios, que a Mãe Natureza, sempre generosa fornecia.
Junto com a Escola, com a Professora ou o Professor, bons Médicos aqui chegaram, para com carinho cuidarem da dor do outro. Uma cidade que nasceu ouvindo, Paz e Bem, saudação do Imortal Francisco de Assis. 
Tem ela, entre os seus frades, um Santo, o Glorioso Frei Policarpo Berri. Cuidar da alma é preciso, porém também cuidar do relicário que a abriga, essa essência de origem divina, assim pensava e planejava ele.
 A Igreja e o Progresso de mãos dadas. O Corpo e a Alma, bem servidos. 
A Rádio, para manter informado, todo e qualquer cidadão. A Televisão, um Canal, a primeira numa cidadezinha interiorana, o Bem Viver com autonomia, com saúde e, com o sonhar de cada um que busca emancipação., que de acordo com nome desse lugarejo, voaram não só pelo Brasil, mas também pelo Mundo.
Dois médicos, ilustres cidadãos dessa cidade hospitaleira, daqui saíram levando nos seus alforjes, não mais no lombo de um cavalo, mas no porta–malas de um carro potente, tendo como essência o servir. Sem distinção, a todos com suas profissões escolhidas, para do outro cuidarem, criaram o Zé Gotinha e o SUS.
 Por isso, essa cidade maravilhosa, tem retribuído ao carinho de seus filhos, com Universidades, com Hospitais com eficiência no atendimento, e com a Fé, feita para bem servir  e, não para isolar. 
Dois Ministros da Saúde, dois médicos excelentes profissionais, orgulharam a cidade que ao longo de um Rio, que moveu os barbaquás, as rodas d´água, tem nos profissionais, quem sabe pensar e, faz pelo seu povo. Constrói, põe em prática.
O Zé Gotinha, símbolo Nacional, livra as crianças de um grande mal. Ajudou a erradicar a poliomielite com suas sequelas, e tantas outras doenças.
O SUS, o melhor exemplo de saúde, nasceu da vontade de um médico, que tinha por meta, que a saúde é para todos, independentemente do salário de cada um.
Questionado com a resposta de uma mãe. Ao ser de forma enérgica, dentro de um consultório, com a autoridade de alguém que achava que era só trazer, a criança, que não tinha todo o aparato burocrático, 
- Não trouxe antes ao médico, porque vocês não atendem pelo INAMPS, durante a manhã. 
Essa assistência, era para poucos privilegiados. 
 Assim de uma vila, serpenteando um Rio, localizada por ente os tantos morros, que sempre ouviu o PAZ E BEM, o Brasil, hoje se orgulha de seus cidadãos, capazes de providenciarem, de criarem o que se precisa para que realmente o bem viver, aconteça. 
Essa cidade, peculiar chamada de Pato Branco, assim com a ave, sabe voar, nadar e caminhar, conforme for preciso. De acordo de como o momento se apresenta. 
E, ainda é ela da cor da Paz, da Pureza, da Calma.  A cor da limpeza. Branco na junção de todas as cores. A cor da luz.
 Ela, tem carinho especial pelos seus filhos, que tanto na Educação, na Saúde e na Religião, no Trabalho, impregnaram com a essência do Bem Querer, aos seus munícipes. 
“Pato Branco, és o Nosso Lar”, canta-se com o seu Hino. 
Quem toma da água do Rio Ligeiro, para cá, sempre retorna - diz o adágio popular -, com orgulho de cidadania, dessa terra bendita, tanto para quem aqui nasceu, bem como, para que foi aquecido, protegido sob as asas que sabem acolher e confortar com responsabilidade e amor. 

      

 


  




Conto publicado no "Livro de Ouro Contos "- Edição 2021 - Outubro de 2021

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