Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

Um caso de amor, num pedido de socorro

As crianças programaram uma noitada na casa dos Nonos. Encomendaram um petisquinho de frango e também de carne de gado, e ainda dois espetinhos de coraçãozinho. Claro que também um pãozinho bem gostoso.
Os bons e queridos Noninhos, providenciaram tudo. Para beber, queriam suco de uva.
Logo depois das aulas de uma sexta-feira vieram todos felizes. Ainda de uniforme. Mas em uma mochila, a roupa que usariam. Não podiam esquecer da escova de dentes. A toalha de banho, o sabonete, o xampu e a pasta de dente seriam providenciados pelos donos da casa. Por isso, não precisavam trazer. Nem o chinelo, pois esse cada um já tinha de reserva na casa querida, junto com o pijama. Assim era menos coisas para carregar.
A casa encheu-se de Luz. Barulho, risadas e muita alegria.
Quando escureceu, foram caçar o Lobisomem. Ele tinha sido visto na última visita. Era uma noite de lua cheia.
Cada um com uma lanterna. Procuraram por todos os cantos. Um pátio bem grande, cheio de árvores. Foi uma festa. E, nada do dito cujo.
- Ele deve ter ido embora. Vocês fizeram muito barulho. Disse o Nono.
Cansados entraram, pois já era tarde.
Tomaram um banho gostoso. E foram jantar.
A fome, estava grande.
Ainda bem, que quando chegaram da escola, ganharam um cachorro-quente, cada um.
Depois de bem alimentados, sentaram–se no chão, para ouvirem as histórias daquele tempo.
E, o Nono contou de quando encontraram o gatinho.
Todos amam esse bichano. Ele é carinhoso e, gosta muito da piazada. Faz uma festa quando eles chegam.
Sem esquecer que tem ainda a cachorrinha chamada Pretinha. E, um periquito.
Diz uma das crianças:
- Engraçado nessa casa o gato e o cachorro não brigam. Ao contrário são amigos. Até dormem juntos.
E o Nono, então, contou uma história que é verdadeira:
- Uma noite muito fria, fui dormir cedo. De madrugadinha, ouvi um miado fraquinho. Parecia um pedido de socorro. Escutei. Era realmente um miado. Com muita preguiça, levantei-me. Abri a porta devagarinho. Uma lufada de vento gelado, quase me fez desistir. Com a lanterna na mão, vasculhei e num cantinho todo encolhidinho, estava lá um gatinho, sem proteção alguma. Cheguei bem perto e ele nem se mexeu. Estava com muito frio. Se ficasse onde estava, embaixo do vaso de flor teria congelado, até o dia amanhecer.
Peguei ele na mão. Quando sentiu o calor se aninhou. E, o trouxe para dentro.
Niss, a Nona também já tinha se levantado. Arrumou uma cobertinha. Era uma peça já usada, que ela guardou na dispensa para uma emergência. Ligamos um foco de luz e esquentamos o gatinho. Ele ficou bem quieto. Aos poucos foi se mexendo e até miou mais forte.
Parecia até que dizia:
- Muito obrigado.
Depois de revigorado com o calor, não só do cobertor e da lâmpada, mas o calor humano também, olhou para nós e miou. Estava pedindo um leitinho.
Esquentamos e colocamos numa tigelinha que ficou sendo o prato dele. Tomou todo e, chegou se lamber.
Assim ganhamos um companheiro, naquela noite gelada.
No outro dia vimos que o nosso gatinho, era uma menina.
- Quanto tempo que ela está aqui? Nono? Perguntou uma das meninas.
- Olha, ela veio antes de vocês. Já faz uns 10 anos. É a nossa companheirinha, principalmente quando vocês não estão por aqui. A gente ama essa bichana toda malhada.
- Mais do que nós? - Perguntou um dos guris.
O Nono, pensou e respondeu:
- O amor não tem medida. Não existe mais ou menos. A gente ama e pronto. Cada um recebe o amor na medida certa, de que precisa. Por isso amar é bonito. E, devemos nos amar muito. Não só nós, que somos gente, mas também a natureza. Incluindo sempre os animais, que são muito fofinhos.
- Nono, a gente não ama as cobras, elas são perigosas. Filosofou uma das criaturinhas.
- Só você mesmo. Disse a Nona.
É um amar diferente. Deixar elas que fiquem longe de nós. Não importunar. Porque também elas que rastejam pelo chão, fazem parte da vida.
Mas agora vamos escovar os dentes para ir dormir. Já é bem tarde. E amanhã temos muitas coisas para fazer juntos.
A casa dos Nonos é sempre um lugar acolhedor. Onde tem muito AMOR! 




Livro de contos "Viva o amor"
Setembro de 2022

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