Ricardo Guimarães Torres
Rio de Janeiro / RJ

 

Tragam as luzes das telas e silenciem as ruas

 

Primeiras décadas do terceiro milênio,
trazendo modernidade com facilidades,
a comunicação instantânea e rotineira,
entretenimento massivo até as massas.

O mundo digital solucionador de demandas,
mas não é milagroso, apesar de ser criador,
novas estratégias pra demandas suprimidas,
novas problemáticas geradas pela inovação.

Transformando rapidamente todo um comportamento social,
a era da informação avança, sem pisar ou testar seus freios,
com as mídias sociais, redes sociais, vlogueiros e blogueiros,
instaurou-se a cultura do exibicionismo e da expressão vazia.

Claro que nem tudo que reluz é ouro, mas existem joias por aí,
incrustadas numa montanha de porcaria, ensinando, educando,
propagando a verdadeira cultura, o saber real acima da opinião.
Assim, o processo avança em passos largos e para todas as direções,
o mundo vai girando, cada vez mais rápido, vai nos deixando para trás,
a velha infância, aquela vivida nas ruas da vizinhança, se esvaiu daqui.

Pular muros, jogar com bolas, subir em árvores, catar frutas e correr,
interagir fisicamente com outras crianças, brincar e brigar, se divertir,
criar e solucionar problemas, criar relações, aprender sobre o mundo.
Uma era que já se foi, substituindo o som cotidiano das crianças nas ruas,
por vídeos e jogos irados, vidas alternativas simuladas nas mentes juvenis,
onde, nessas mesmas ruas, o conhecimento prático e tácito fora silenciado.

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - Volume 145 - Janeiro de 2017